Monday, July 23, 2018



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Helmut, meu amigo.

Helmut. Um nome simples, como seu dono foi ao longo de sua vida. Vida que agora leva sua inesquecível maneira de ser aos umbrais da eternidade.  Helmut virou saudade. Memória afetiva de se sentir de forma inexorável. Por todo o sempre. Tive o prazer de com ele conviver, de forma muito próxima, por muitos e saudosos anos. Foi na quadra de tênis que o encontrei pela primeira vez, na casa de John Helal, na Praia da Costa, ali bem perto do farol de Santa Luzia. O “alemão” como seus amigos bem próximos o chamavam, era um fã incondicional de atividades esportivas, mas foi o jogo de tênis sua maior paixão esportiva, ouso dizer. Quando o conheci e passei a jogar tênis com ele havia um grupo muito unido. Todas as quartas de noite, sábados de tarde e domingos de manhã nos reuníamos para jogar tênis. Laércio Lucas, Jones e seu irmão Joel Santos Neves, Romulo Finamore (Mimo), John Helal, Morris Brown (o Inglês, como ele o chamava), Shi, Huguinho Fróes e eu, éramos os mais assíduos, naquela época. Algumas vezes Jônice Tristão também por lá aparecia. Helmut muitas vezes chegava pedalando sua bem cuidada bicicleta. Ao longo da quadra de saibro, ficavam estacionados os carros de todos. E a bicicleta do alemão!

Claro que em períodos precedentes ele já jogava tênis com esses antigos amigos em outros locais, como no Praia Tênis Clube. Mas a minha memória afetiva se dirige sempre a esses momentos. A partir dessa época formamos uma dupla de tênis quase que constante e bem competitiva. Quando havia, entre nós, torneios ou pequenos campeonatos lá estávamos, lado a lado, do mesmo lado da rede, ele e eu. Perdemos muitas, mas também ganhamos muitas partidas. E assim conheci sua família, sua esposa Helena, suas filhas Karin e Jeanette, e seus filhos Victor e Alex. Todos sempre com o inestimável apoio de Adalgisa. E da inesquecível e carinhosa avó materna.   

         Tento aqui, nessa hora e no momento silencioso de sua perda, no momento em que ele reencontra Helena e com ela compartilha a eternidade, definir Helmut. Impossível, logo percebo. Há pessoas que são como uma palavra divina que não mais se repete, pois, meros são seus nomes. Inconfundíveis, sim, são sua alma e a essência luminosa que inebria todos que com elas convivem. E, por isso, são indefiníveis. Insubstituíveis. Mas posso dizer que Helmut fazia da vida uma arte simples, humilde. Que adorava compartilhar com os amigos sua alegria e suas conquistas. Foi assim também quando ele se mudou para a Ilha do Frade, e o grupo de tênis ampliou-se com Dr. Carlos Mariano e seus filhos, Paulinho, Ronaldo, Luiz Paulo Velozo e seu irmão Sérgio, Cuca Galvêas, Alfredo, Luizinho, Luís Ary, Andreas Schilte, Roberto Argentino, Ricardo Sanz e tantos outros que não cito aqui, mas que frequentavam sua casa.  

          Adeus, meu melhor amigo de toda a minha vida. Você agora foi para o tie-break. E lembre-se sempre: o jogo só acaba quando termina. Play!     

Monday, February 26, 2018

Obsessão Eleitoral

Obsessão Eleitoral
Estamos em mais um ano de eleições e no Espírito Santo mais uma vez o assunto é a candidatura ou não de Paulo Hartung à reeleição. Mesmo havendo indicações eventuais de algo mais elevado, como a Vice-Presidência da República, o universo político capixaba gravita em torno de sua aura política local. Político hábil, vitorioso e estrategista, ele inspira em muitos uma obsessão em derrota-lo ou ver seu ocaso político. Nunca participei ativamente de sua vida política, mas enquanto observador atento percebo que esse é o calcanhar de Aquiles de seus adversários.
Gastam energia e concertações muito mais direcionadas a derrota-lo do que efetivamente elegerem-se. Parece que não entenderam as lições de Trump e Macron. Antes de apresentarem suas propostas e definirem que produtos entregarão à sociedade, os postulantes ao cargo máximo de nosso estado exaurem suas forças na tentativa de desconstruí-lo. Além do próprio, temos bons candidatos ao cargo, como o deputado Majeski, a senadora Rose, o prefeito de Vitória, o prefeito de Vila Velha e, claro, Renato Casagrande. Creio que ainda que venham outros candidatos, esses são os mais competitivos, no momento.
O segredo da vitória, do vencer o possível candidato Paulo, estará na capacidade de mostrar entregas realizadas em seus respectivos mandatos. É isso que a sociedade hoje quer. Resultados, produtos, soluções. Antes prevalecia o binômio ideais-partidos políticos. Hoje, não mais. O binômio desejado é ideia-pertencimento. Boas ideias que pertençam ao eleitor, não ao candidato ou ao partido. Os partidos perderam sua relevância em termos de pertencimento. Haja vista o que aconteceu com o PSDB-ES, recentemente. E com o PT em nível nacional.  Não mais se vence uma eleição por desmerecer o adversário, mas por se fazer merecer perante o eleitor.
Certa vez, Napoleão Bonaparte disse que é preferível o ateu ao fanático. O fanatismo leva a uma interpretação míope da realidade e das condições de batalha. Creio que essa percepção também vale para a obsessão eleitoral. Antes o desinteressado que o obsessivo. Este, já perdeu o foco de sua estratégia - não quer vencer, quer derrotar o adversário; o outro, ainda tem a chance de se interessar pela vitória, e a derrota alheia será uma legítima consequência de sua eleição. Temos bons candidatos. O que nos falta é conhecer suas estratégias e resultados que se responsabilizarão por gerar. Melhor fazer isso de forma célere, pois o tempo é implacável com as obsessões. Transforma batalhas em derrotas.

Tuesday, September 12, 2017

Sinfonia Inacabada


Naquele trecho de estrada, ainda que existam o gorjear e o farfalhar, haverá sempre o silêncio. O silêncio no meio do caminho. O canto, tanto, tornou-se encanto. Vozes se calaram, subitamente, como que ao fim de uma sinfonia. Uma sinfonia de adeus. Cordas e sopros silenciaram desafinadamente. Uma ópera triste. Uma tragédia anunciada. Uma ária lúgubre. Uma marcha fúnebre. A BR 101 não foi uma boa regente.

John Donne nos lembra de que ninguém é uma ilha. Hemingway nos ensina por quem os sinos dobram. A morte de qualquer ser é no fundo a morte de parte de cada um de nós. O recente acidente com vítimas fatais de um grupo musical de Domingos Martins levou um pouco de cada um de nós. E deixou uma reflexão incontornável: onde erramos? É certo que a tendência é culpar a não duplicação da rodovia. Não conheço quem seja contra essa ideia. Significa melhores condições de segurança no trânsito, seja a lazer, seja a trabalho. Cláusulas contratuais que a exijam devem ser cobradas e demandadas. Punições legais podem ser adotadas. Mas, a consternação, em situações assim, pode superar a constatação.
   
Por exemplo, que nem sempre as pessoas respeitam leis de transito e de transporte de cargas. Velocidades incompatíveis com traçados rodoviários e inadequados procedimentos para transporte de cargas, especialmente as pesadas, acontecem com muita frequência. Não havendo uma autoconscientização desse respeito, importantíssimo por colocar a vida de terceiros em risco, o ente público tem que gastar enormes quantias com uma fiscalização intensa, nem sempre suficiente. Não tenho aqui a pretensão de me referir ao acidente ocorrido, mas sim de me referir a um comportamento social generalizado. Há instâncias específicas para qualquer menção de juízo.

Até porque nada recuperará o tempo esfacelado. Os amores silenciados, as harmonias desfeitas, os arranjos não ensaiados e os compassos não cronometrados. O tempo não desafina. Segue uma linha melódica composta por um Ser Superior, um Regente celestial. No meio do caminho ficou o eterno eco de um silencio memorial. A ressonância das batidas dos corações partidos. Só nos resta recolher a alegria daquele grupo e distribuir com os entristecidos; os sonhos, com os céticos; as lágrimas, com os insensíveis; os risos com os introvertidos; e as esperanças com os desiludidos.

O Brasil precisa muito mais que duplicar suas rodovias. Nosso país precisa somar suas virtudes, multiplicar sua autoestima e acima de tudo exponenciar um comportamento cívico que faça de cada brasileiro um agente de mudança comportamental. Ou mais sinfonias ficarão inacabadas.         

Thursday, May 18, 2017

Desordem e Regresso!

Antes de apertar o gatilho e disparar o tiro mortal contra o próprio peito que o fez entrar para a História, Vargas vislumbrou o futuro do Brasil. Repuxou o travesseiro alto e macio, de fronha branca e bordada, acertou o pijama de listras longas e lançou o olhar sobre o amanhã. Ficou  pasmo com o que antevia. Pensou em chamar a filha, que ainda estava no Palácio do Catete, mas preferiu a solidão. O silêncio de sua decisão. Apenas o som do tiro disparado o quebrou. E fechou a cortina do futuro.

Vargas viu a ascensão e a queda de Juscelino Kubitschek, do apogeu da construção de Brasília à sua execração moral e politica. Contemplou a construção da Praça dos Três poderes, símbolo de uma democracia que se transformaria em frangalhos com o regime militar. De soslaio, acertando as pontas dos pés sob os lençóis de linho branco, viu a chegada de Jânio, balançando sua vassourinha com a promessa de acabar com a corrupção. Pelos vidros da janela, viu a ida de Jango à China e o imbróglio da definição de quem assumiria a presidência do país. Tentou entender o Parlamentarismo de Tancredo, mas lhe faltou interesse.

Seguir viagem em direção ao futuro o fez conhecer os porões da ditadura e os movimentos estudantis. Os novos líderes políticos, estudantis e sindicais. Reviu Tancredo, presidente eleito e acometido de grave doença. Rezou por ele em sua morte e defrontou-se com Sarney e suas decisões antagônicas. Em seguida, viu a alegria do povo brasileiro com as Diretas Já e sua angústia com o presidente eleito, Collor de Melo. Vibrou quando o Congresso o afastou. Relembrando a sua visão automotiva, teve vontade de dirigir o reinventado fusca de Itamar. 

O Plano Real lhe fez pensar nos pobres que, com ele, livraram-se da temida inflação. Nessa vereda do futuro, encontrou Fernando Henrique, Lula e Dilma. Sentiu saudade da revolução de 1930. Estava a ver, meio que contra a luz, o perfil de Temer. Depois de tudo, havia um mosaico à sua frente. Desistiu de entendê-lo e entrou para a História. 

Monday, December 26, 2016

Trump e Lula, opostos.


Recentemente li, em artigo de importante e semanal revista brasileira, que Trump seria o Lula norte-americano, por conquistar votos do “povão”. Não me contive e decidi escrever minhas impressões sobre essa comparação.
Em meu entender, Trump é a antítese de Lula. Vejamos.

Trump tem elevada escolaridade. Lula, não.
No conjunto da obra, Trump é um empresário bem-sucedido. Lula, um sindicalista malsucedido.
Trump nasceu rico. Lula, pobre. Trump enriqueceu mais ainda pela natureza empreendedora. Lula, tornou-se rico, mas de forma suspeita. É réu em algumas ações. Trump, não.
Trump conquistou votos de grandes empresários e dos rednecks e hillbilies norte-americanos, prometendo mais empreendedorismo. Lula, mais assistencialismo.
Trump, na campanha, falou o que ele próprio queria ouvir. Lula, o que os outros gostariam de ouvir.

Trump e Lula, assim penso, são opostos.   

Thursday, December 08, 2016

Falência múltipla

Este ano, eu tive o prazer de ser comentarista de economia do Bom Dia ES da TV Gazeta, por um breve, mas inesquecível, período. Assunto, não faltava tantas eram as questões de natureza econômica e social que afligiram nosso dilacerado país. Em uma dessas manhãs, dessas wee small hours of the morning, diria Sinatra, era junho e eu estava sentado de frente para Tati Braga e Mário Bonella, comentando algo, quando ele disparou a seguinte pergunta, à queima roupa: “Professor, quando a economia sairá dessa situação? ”. E eu respondi, sem piscar: “a partir de 2019! ”. Comprimindo seu belo terno nas costas da cadeira, Mário fez aquele semblante preocupado e a Tati deixou transparecer um pouco de tristeza, torcendo, talvez, por uma resposta mais otimista. Mas a melhor resposta em jornalismo é a verdade que você tem em si, não a que o público gostaria de ter. Profissionais muito competentes, Mário e Tati, conduziram muito bem a entrevista.  

Depois que sai da Rede Gazeta, torci para estar errado, mas os acontecimentos foram se realizando no sentido de confirmar aquela percepção.  Em termos concretos, muito pouco foi feito para sua negação. Continuamos sem crescer suficientemente, Estados e Municípios quebram como peças de dominó, políticos e gestores públicos são presos e o desemprego se mantém intocável. Temer ainda não conseguiu se firmar como um líder, algo extremamente indispensável em situações assim, e nossa maior expressão de confiança é um Juiz de Primeira Entrância. Os movimentos sociais, antes liderados pelo cidadão comum passa, a passos largos, para mãos corporativistas, defendendo seus próprios interesses. O Senado, desafia o Supremo Tribunal Federal, descumprindo ousadamente uma liminar dele emanada. 

O Brasil sofre de falência múltipla: econômica, política e institucional.  E quando isso acontece, pode ser fatal. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ruiu, em boa parte, por dois fatos inconsistentes e concomitantes, sob o comando de Gorbatchev: a Perestroika e a Glasnost. O Brasil, e sua gente, tende a ruir por três fatos também inconsistentes e concomitantes: a incompetência econômica, a corrupção política e a instabilidade institucional. Há muito se diz que, para dar valor ao futuro, faltou ao nosso país as agruras das Invasões Bárbaras, da Guerra da Secessão, da Restauração Meiji e da Revolução Árabe. Nunca concordei com esse argumento, mas não posso deixar de me permitir ver no que está acontecendo conosco um ponto de inflexão. Dolorido, vergonhoso e desmoralizante, mas, infelizmente, essencial para que voltemos a reconstruir o futuro.

Sunday, November 27, 2016

Fidel e Getúlio Vargas

A notícia da morte de Fidel Castro fez o jornal  cubano Granma estampar sua frase “Hasta la victoria siempre”.  Castro sempre foi um bom frasista, como essa “a história me absolverá”. Acho muito melhor a frase de Getúlio, “passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Ditadores, ambos foram implacáveis com seus opositores e, ao mesmo tempo, populistas. Posso até pensar que a denominação “pai dos pobres” se encaixa bem nos dois. Pelo menos na perspectiva deles, os pobres. Os dois fizeram uma revolução armada e tomaram o poder. Claro que de forma muito menos dramática em termos de combate para Getúlio. E, ao terem esse poder em mãos, adotaram um espírito nacionalista extremamente visceral, concebendo uma percepção de associação entre Estado e poder que estruturava suas ações e seus discursos.  Ambos se afastaram dos Estados Unidos e procuraram alianças com a Europa. Getúlio, com a Alemanha e Fidel, com a Rússia, que fica entre a Europa e a Ásia. Um namoro que não foi perene em seu apoio ideológico e econômico.
Assim como Fidel, Getúlio também teve um irmão muito próximo de si, no exercício do poder estatal: Benjamim Vargas, o Bejo. Mas este deu muito mais trabalho ao irmão que  Raul Castro deu a Fidel. Raul, ao contrário, foi seu fiel escudeiro e conselheiro. Sempre discreto e humilde. Também, o que diferencia, em meu entender, o líder cubano do líder brasileiro, dois ditadores, foi a existência de Che Guevara. Fidel teve uma figura humana, um mito global, que lhe permitiu viver à sombra do dramático palco das guerrilhas, com suas virtudes e defeitos, ficando apenas com o palco da diplomacia, dos discursos inflamados e vociferados em retóricos discursos de longa duração. Como se o guerrilheiro fosse Che e ele o politico que lutava contra os moinhos do capitalismo. Che encarou as selvas e a dureza da guerrilha. Ele os  holofotes da mídia e suntuosos jantares para celebridade globais. Inclusive, alguns brasileiros.  
O ciclo politico de Fidel, em relação aos Estados Unidos, foi de Kennedy a Obama. Viu a guerra do Vietnã, o caso Watergate, o movimento hippie com o festival de woodstock, o discurso de doutrinação da America latina feito por Carter, o caso Irá-contras na era Reagan e também seu discurso em frente ao Portão de Brandemburgo, desafiando Gorbachev a derrubá-lo. E o ouviu chamar a Russia de “Império do mal”. Também, o som do saxofone de Bill Clinton. O fim da torres gêmeas em New York e a morte de Saddam e Bin Laden. A chegada de Obama e sua visita a Cuba. A cena seguinte seria ver a posse de Donald Trump. 
O destino lhe poupou essa desilusão.