Tuesday, September 12, 2017

Sinfonia Inacabada


Naquele trecho de estrada, ainda que existam o gorjear e o farfalhar, haverá sempre o silêncio. O silêncio no meio do caminho. O canto, tanto, tornou-se encanto. Vozes se calaram, subitamente, como que ao fim de uma sinfonia. Uma sinfonia de adeus. Cordas e sopros silenciaram desafinadamente. Uma ópera triste. Uma tragédia anunciada. Uma ária lúgubre. Uma marcha fúnebre. A BR 101 não foi uma boa regente.

John Donne nos lembra de que ninguém é uma ilha. Hemingway nos ensina por quem os sinos dobram. A morte de qualquer ser é no fundo a morte de parte de cada um de nós. O recente acidente com vítimas fatais de um grupo musical de Domingos Martins levou um pouco de cada um de nós. E deixou uma reflexão incontornável: onde erramos? É certo que a tendência é culpar a não duplicação da rodovia. Não conheço quem seja contra essa ideia. Significa melhores condições de segurança no trânsito, seja a lazer, seja a trabalho. Cláusulas contratuais que a exijam devem ser cobradas e demandadas. Punições legais podem ser adotadas. Mas, a consternação, em situações assim, pode superar a constatação.
   
Por exemplo, que nem sempre as pessoas respeitam leis de transito e de transporte de cargas. Velocidades incompatíveis com traçados rodoviários e inadequados procedimentos para transporte de cargas, especialmente as pesadas, acontecem com muita frequência. Não havendo uma autoconscientização desse respeito, importantíssimo por colocar a vida de terceiros em risco, o ente público tem que gastar enormes quantias com uma fiscalização intensa, nem sempre suficiente. Não tenho aqui a pretensão de me referir ao acidente ocorrido, mas sim de me referir a um comportamento social generalizado. Há instâncias específicas para qualquer menção de juízo.

Até porque nada recuperará o tempo esfacelado. Os amores silenciados, as harmonias desfeitas, os arranjos não ensaiados e os compassos não cronometrados. O tempo não desafina. Segue uma linha melódica composta por um Ser Superior, um Regente celestial. No meio do caminho ficou o eterno eco de um silencio memorial. A ressonância das batidas dos corações partidos. Só nos resta recolher a alegria daquele grupo e distribuir com os entristecidos; os sonhos, com os céticos; as lágrimas, com os insensíveis; os risos com os introvertidos; e as esperanças com os desiludidos.

O Brasil precisa muito mais que duplicar suas rodovias. Nosso país precisa somar suas virtudes, multiplicar sua autoestima e acima de tudo exponenciar um comportamento cívico que faça de cada brasileiro um agente de mudança comportamental. Ou mais sinfonias ficarão inacabadas.         

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