Thursday, December 08, 2016

Falência múltipla

Este ano, eu tive o prazer de ser comentarista de economia do Bom Dia ES da TV Gazeta, por um breve, mas inesquecível, período. Assunto, não faltava tantas eram as questões de natureza econômica e social que afligiram nosso dilacerado país. Em uma dessas manhãs, dessas wee small hours of the morning, diria Sinatra, era junho e eu estava sentado de frente para Tati Braga e Mário Bonella, comentando algo, quando ele disparou a seguinte pergunta, à queima roupa: “Professor, quando a economia sairá dessa situação? ”. E eu respondi, sem piscar: “a partir de 2019! ”. Comprimindo seu belo terno nas costas da cadeira, Mário fez aquele semblante preocupado e a Tati deixou transparecer um pouco de tristeza, torcendo, talvez, por uma resposta mais otimista. Mas a melhor resposta em jornalismo é a verdade que você tem em si, não a que o público gostaria de ter. Profissionais muito competentes, Mário e Tati, conduziram muito bem a entrevista.  

Depois que sai da Rede Gazeta, torci para estar errado, mas os acontecimentos foram se realizando no sentido de confirmar aquela percepção.  Em termos concretos, muito pouco foi feito para sua negação. Continuamos sem crescer suficientemente, Estados e Municípios quebram como peças de dominó, políticos e gestores públicos são presos e o desemprego se mantém intocável. Temer ainda não conseguiu se firmar como um líder, algo extremamente indispensável em situações assim, e nossa maior expressão de confiança é um Juiz de Primeira Entrância. Os movimentos sociais, antes liderados pelo cidadão comum passa, a passos largos, para mãos corporativistas, defendendo seus próprios interesses. O Senado, desafia o Supremo Tribunal Federal, descumprindo ousadamente uma liminar dele emanada. 

O Brasil sofre de falência múltipla: econômica, política e institucional.  E quando isso acontece, pode ser fatal. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ruiu, em boa parte, por dois fatos inconsistentes e concomitantes, sob o comando de Gorbatchev: a Perestroika e a Glasnost. O Brasil, e sua gente, tende a ruir por três fatos também inconsistentes e concomitantes: a incompetência econômica, a corrupção política e a instabilidade institucional. Há muito se diz que, para dar valor ao futuro, faltou ao nosso país as agruras das Invasões Bárbaras, da Guerra da Secessão, da Restauração Meiji e da Revolução Árabe. Nunca concordei com esse argumento, mas não posso deixar de me permitir ver no que está acontecendo conosco um ponto de inflexão. Dolorido, vergonhoso e desmoralizante, mas, infelizmente, essencial para que voltemos a reconstruir o futuro.

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