Thursday, January 07, 2016

Pedra no Caminho, Like a Rolling Stone

Daqui, de onde estou, é possível  ver o horizonte além mar. Causa a ilusão de ser uma reta, o encontro do mar com o céu, mas, na verdade, faz parte de uma curvatura. Há ondas, ventos, ilhas e nuvens esparsas, brancas como algodão. O sol, ainda inclinado a leste, queima a pele já curtida e enrijecida dos pescadores à beira mar. Puxam uma extensa rede que, há dias, teima em vir com poucos peixes, desses pequenos, que devem ser devolvidos ao mar, sua morada. Não perdem a esperança, revivendo esse ritual todos os dias. Muitas pessoas, em busca do convívio salutar com a natureza, caminham para lá e para cá, deixando rastros que registram um tracejar descompromissado e entrelaçado. A Praia da Costa, assim de manhãzinha, é uma festa natural, uma profusão de cores e pessoas matinais. A luz do amanhã que acabou de chegar.

Quando penso no meu país, no meu município, lanço os olhos sobre seu horizonte e não o antevejo, como Juscelino a partir do Planalto Central, com fé inquebrantável. Se o tempo presente é uma semente do tempo futuro, há medo no coração e na mente das pessoas. Na segurança pública todos os dias os jornais noticiam assaltos à luz matinal do dia, agredindo pessoas e roubando seus carros, na mesma Praia da Costa. Um cidadão ou cidadã que se dirige ao trabalho, uma mãe que leva filho ao colégio, um filho que vai para a faculdade, não faz diferença: todos têm sido vítimas dessa agressão, com alta frequencia. Reconheça-se o esforço da guarda municipal, das policias civil e militar, mas a situação é crítica. A sociedade clama por soluções.

Na política, esse mesmo olhar me mostra uma banalisação da corrupção, do descompromisso com a causa pública e sua gestão responsável. Seja em Brasília, seja aqui, responsabilidade é algo que os gestores gostam de assumir quando ela é positiva, dá votos. Ao contrário, como no caso da pedra que rolou em Vila Velha, é um empurra-empurra só. O atual prefeito culpa seu antecessor e este o culpa. Há uma pedra no caminho dos dois. No caminho há uma pedra. Mas nesse mesmo caminho há pessoas, seres humanos que não têm horizonte definido, como reta ou curvatura. Apenas a fé inquebrantável que a vida vale a pena, quando a alma não é pequena. São pessoas simples, muitas vezes desprovidas do acesso à educação, ao trabalho digno, mas que merecem respostas e explicações sobre essa tragédia. As autoridades públicas não podem emudecer ou evitar a imprensa. Não se trata de julgá-las, mas de buscar informações.

O momento é de explicações, proposições concretas, interlocuções e interações sociais. Fugir delas é dizer que não há horizonte algum. Ou, que nunca houve.  

Mas, o melhor mesmo, disse Dylan em "Like a rolling stone". Vai lá...ouça!      ​

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