Wednesday, January 06, 2016

Kierkegaard e a Escola Viva



O filósofo dinamarques Kierkegaard aborda em sua obra “O Conceito da Angústia”, a face do poder demoníaco do silêncio, quando aquele que sofre se enclausura e imagina que seu problema não tem solução. Sugere que é preciso comunicar, vocalizar, de modo que o próximo possa saber de sua ansiedade ou angústia. Desse modo, uma solução pode advir. Assim procederam tanto grande parte da imprensa brasileira quanto milhares de brasileiros que foram às ruas no ano de 2015, extravasando uma dor incontrolável, oriunda da decepção e da desilusão civil coletiva. Fizeram sua parte, mostraram suas caras. O brado não foi retumbante nem as margens eram plácidas, mas o grito por liberdade ecoou uníssono. Eu mesmo concedi entrevistas, escrevi artigos, comuniquei no rádio, publiquei em meu blog, assinalei no twitter e falei em minhas aulas e palestras que o futuro precisava ser reinventado, ou seriamos trucidados pelo passado. Muitos outros, bem mais competentes que eu, também assim o fizeram. De nada isso adiantou. A situação econômica e social se degradou e não dá indícios de recuperação imediata.

O Brasil perdeu para si mesmo. Só nos resta, no momento, a angústia kierkegaardiana. Aos poucos a afonia vence a sonoridade das almas mortas de Gogol, a exuberancia provocativa de Wilde, e domina os pântanos da mediocridade que Jane Austen descreveu. O país está à deriva. Perdemos o leme da política de rendas, da política cambial e da política monetária. Navega com o leme da politica fiscal, acachapante, devoradora, como se fosse vinhas da ira, anotaria Steinbeck. E o que deveria ser Governo Federal parece ser, na verdade, um desgoverno de interesses e interessados com seus carros oficiais reluzentes, seus sorrisos infláveis e suas desculpas descartáveis. O ano de2016 caminha para ser o primo pobre de 2015, mas tomara que eu esteja errado.

Entretanto, é preciso sonhar, persistir no comunicar, no vocalizar, no debater. Ter otimismo e contagiar pessoas com a vontade de vencer, de superar adversidades. Fazer da criatividade a alavanca da formulação produtiva e inclusiva. Unir forças, antagônicas ou não, em torno de ideais, da construção de soluções exequíveis, ainda que não de forma imediata. A proposição do Governo do Estado do Espírito Santo em relação ao que se denominou “Escola Viva” é um bom exemplo dessa postura. Quando Galileu convidou pessoas para conhecerem seu invento, o telescópio, ficou aborrecido com aqueles que somente criticavam sua forma e cor, sem valorizar o que ele lhes oferecia em termos de conhecimento cósmico. Repetir essa postura na “Escola Viva” é reviver essa miopia. Mas, claro, críticas construtivas, para seu aperfeiçoamento e evolução, são importantes e necessárias. Afinal, a afonia gera angústia e ansiedade.                ​



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