Sunday, November 29, 2015



Lá pelos idos de 63 a.C, quando o patrício romano Catilina, uma pessoa inescrupulosa e influenciadora, mas reluzente em sua imagem de hábil articulador político envolveu cidadãos depravados e financeiramente ardilosos em uma conjuração contra o Senado da República Romana, Cícero, cônsul de Roma, proferiu um discurso que viria a ser um perene exemplo de retórica, em que perguntava: “O di inmortales! Ubinam gentium sumus? In qua urbe vivimus? quam rem publicam habemus?”. Em português, sua angústia, que também é nossa nos dias de hoje, assombra: Oh deuses imortais! Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso? O Templo de Júpiter tremeu, mas a Instituição Senado se fortaleceu quando Catilina foi punido.

A prisão de um senador brasileiro, líder do Governo, me fez lembrar de Cícero. Não foi somente o povo brasileiro que foi traído e atingido pela lama da corrupção desvairada, mas a imagem de um Templo da Ética. Bravamente, e de forma indelével, seus representantes não sucumbiram ao corporativismo aético e mantiveram sua prisão. Lamentavelmente, o partido que se diz representante dos trabalhadores brasileiros lavou as mãos, como Pilatos. Pactuaram com o vil atentado ao pílar supremo da República. O Brasil não merece esse mar de lama contaminada pela ambição espúria, pela conspiração financeira e política que se transforma na mais alta mutillação da imagem ética que a democracia, duramente reconquistada, se propõe construir.

Um assombroso plano de poder político e de enriquecimento ilícito às custas do trabalhador brasileiro está sendo desmascarado pelo vigor e pela competencia da Justiça Brasileira e da Polícia Federal. Esse parece ter sido o golpe terminal, o tropeço no fio da navalha e o corte hemorrágico que nem os ilusórios ícones da atual Presidencia da República conseguirão estancar. Estamos exauridos, atingidos na “alma mater” de nosso povo humilde e trabalhador. Somos vítimas do escárnio e da ironia. Tão ampla e sedutora que se revela e se realiza em parcerias venais com a iniciativa privada, que busca suas benesses no rio caudaloso da corrupção que inunda o setor público e o setor privado. Uma simbiose autofágica.

Nesse abominável jogo lúdico, foi preciso um ator​ profissional para adentrar o palco teatral e desmascarar, irrefutavelmente, a encenação de uma peça de teatro do absurdo, em que o absurdo se veste com as túnicas da banalidade. Em pleno Senado da República que, diria Cícero: “hás de puni-los com suplícios eternos!             
 
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