Nas extensas pradarias do velho oeste americano, havia dois paladinos da justiça. Um chamava-se Zorro. Era branco, de cara pálida. Outro se chamava Tonto. Índio, de tez morena tingida pelo sol. Amigos inseparáveis, galopavam juntos perseguindo cowboys desajustados e assaltantes em geral. Também, lutavam contra índios que atacavam as caravanas em busca do ouro da costa oeste. Ninguém achava estranha aquela parceria, pois, era a representação do bem contra o mal. Zorro e Tonto defendiam um ao outro e sempre saiam vitoriosos. Porem, certo dia, perseguidos por dezenas de índios e acuados em uma ravina, Zorro se vira e diz: “amigo Tonto, nós vamos lutar até o fim!” Ao que Tonto responde: “nós quem, cara pálida?”. E juntou-se aos seus deixando Zorro à sua própria sorte.
Passados tantos anos, os seres
humanos parecem repetir Tonto em várias situações. Na politica, por exemplo, a
presidência da república parece dizer o mesmo para seu próprio partido e
eleitores. O que não é um fato isolado, pois o senso de benefício próprio tem
se alastrado por todas as instâncias politicas. Mas é na sociedade, entre os
seres humanos comuns, que se observa o efeito Tonto. Se alguém, que faz parte
de um grupo social, passa a ter atitudes inaceitáveis, logo a sociedade cria
padrões de comportamento taxando-o de drogado, desequilibrado e anormal. Vira
um “cara pálida”. E assim, não deve fazer parte de uma sociedade considerada
“normal”. As pessoas que entram no mundo das drogas, e são centenas todos os
dias, estão nessa situação, pode-se dizer. E se cometem erros, pior ainda ficam
perante todos.
Recentemente, uma pessoa foi
assassinada por um segurança da Prefeitura Municipal de Vila Velha, quando ela
o agredia e tentava chegar ao prefeito municipal para também agredi-lo. A tese
de legítima defesa ficou registrada em vídeos, mas respostas porque uma pessoa teria
tal intenção, porque um segurança não tem equipamento não letal – já que o
rapaz não estava armado – e porque havia apenas um segurança no momento da ação
ficam sem forte indagação pública ou respostas críveis e oficiais. O que se
destaca é o comentário de o rapaz ser usuário de drogas. Cria-se a luta entre o
bem e o mal. O segurança é inocente em tudo, vítima da fatalidade e o Estado
mata uma vítima da ausência do mesmo Estado que não combate devidamente as
drogas e não trata seus usuários e dependentes adequadamente. “Nóias” estão por
toda parte. Vítimas de si mesmas.
E as autoridades dizem: nós quem,
cara pálida? Enquanto a sociedade atormentada, insegura e desprotegida exclama: Je ne suis pas
Gabriel!
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