Thursday, January 29, 2015

Cara Pálida




Nas extensas pradarias do velho oeste americano, havia dois paladinos da justiça. Um chamava-se Zorro. Era branco, de cara pálida. Outro se chamava Tonto. Índio, de tez morena tingida pelo sol.  Amigos inseparáveis, galopavam juntos perseguindo cowboys desajustados e assaltantes em geral. Também, lutavam contra índios que atacavam as caravanas em busca do ouro da costa oeste. Ninguém achava estranha aquela parceria, pois, era a representação do bem contra o mal. Zorro e Tonto defendiam um ao outro e sempre saiam vitoriosos. Porem, certo dia, perseguidos por dezenas de índios e acuados em uma ravina, Zorro se vira e diz: “amigo Tonto, nós vamos lutar até o fim!” Ao que Tonto responde: “nós quem, cara pálida?”. E juntou-se aos seus deixando Zorro à sua própria sorte.

Passados tantos anos, os seres humanos parecem repetir Tonto em várias situações. Na politica, por exemplo, a presidência da república parece dizer o mesmo para seu próprio partido e eleitores. O que não é um fato isolado, pois o senso de benefício próprio tem se alastrado por todas as instâncias politicas. Mas é na sociedade, entre os seres humanos comuns, que se observa o efeito Tonto. Se alguém, que faz parte de um grupo social, passa a ter atitudes inaceitáveis, logo a sociedade cria padrões de comportamento taxando-o de drogado, desequilibrado e anormal. Vira um “cara pálida”. E assim, não deve fazer parte de uma sociedade considerada “normal”. As pessoas que entram no mundo das drogas, e são centenas todos os dias, estão nessa situação, pode-se dizer. E se cometem erros, pior ainda ficam perante todos.

Recentemente, uma pessoa foi assassinada por um segurança da Prefeitura Municipal de Vila Velha, quando ela o agredia e tentava chegar ao prefeito municipal para também agredi-lo. A tese de legítima defesa ficou registrada em vídeos, mas respostas porque uma pessoa teria tal intenção, porque um segurança não tem equipamento não letal – já que o rapaz não estava armado – e porque havia apenas um segurança no momento da ação ficam sem forte indagação pública ou respostas críveis e oficiais. O que se destaca é o comentário de o rapaz ser usuário de drogas. Cria-se a luta entre o bem e o mal. O segurança é inocente em tudo, vítima da fatalidade e o Estado mata uma vítima da ausência do mesmo Estado que não combate devidamente as drogas e não trata seus usuários e dependentes adequadamente. “Nóias” estão por toda parte. Vítimas de si mesmas.

E as autoridades dizem: nós quem, cara pálida? Enquanto a sociedade atormentada, insegura  e desprotegida exclama: Je ne suis pas Gabriel! 

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