O irlandês Oscar Wilde deixou para a humanidade um brilhante legado literário com seus contos além de suas temíveis e antológicas frases dirigidas aos seus desafetos. Mas, para mim, seu livro “O Retrato de Dorian Gray”, de 1890, é uma obra-prima sobre a decadência da era vitoriana. De uma sociedade que ainda cultuava a poderosa Rainha Vitória. No livro, Lorde Henry conhece Dorian um jovem envaidecido de si mesmo e o convence a perenizar sua juventude e beleza, já que o passar do tempo seria implacável com ambas. A tese de Henry é simples: "o senhor dispõe só de alguns anos para viver deveras, perfeitamente, plenamente. Quando a mocidade passar, a sua beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado tornará mais amargas que destroçadas." Assim, Dorian resolve fazer um pacto funesto em que o seu retrato envelheceria e ele continuaria jovem e belo: ”Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!"
Eu
estava a minutos de conceder uma entrevista ao vivo para o Bom Dia Espirito
Santo da Rede Gazeta sobre o black friday brasileiro quando o editor Bruno
Faustino disse: “Professor, o senhor poderia comentar também sobre a escolha
dos novos ministros da presidente Dilma? “Com prazer, disse eu”. Eu conhecia os nomes indicados, Tombini, Levy
e Nelson e enquanto pensava nos segundos que antecediam a entrevista com o
âncora Felipe, me veio à mente o livro de Wilde. Alguém, ou ela própria, pediu
que pintassem um retrato que projetasse uma perene imagem de gestora competente
e nele estavam os três novos ministros para fazer o que ela jurava perante toda
a Nação que não faria. Percebendo que o seu tempo de vida presidencial
rapidamente se extinguiria, em menos de quatro anos, e que só lhe restariam as
vitórias de Pirro, aviltou todo o seu
discurso de campanha naquela pintura, vendendo a alma. Protagonizou um inaudito
estelionato eleitoral. Imagina assim que enquanto o quadro receberá a ação do
tempo ela, incólume, desfilará pelos salões presidenciais nos corredores da
desilusão de seus eleitores atônitos.
É uma questão de identidade e
imagem. Assim como não deu certo para o personagem de Wilde dificilmente dará
certo para ela, pois não basta uma boa atuação técnica para projetar uma boa
imagem. É preciso ter uma autentica identidade politica que a ampare, o que é
improvável, pois seria uma agressão histórica se o Partido dos Trabalhadores
passasse a adotar a social democracia do PSDB. Aí só Collodi e seu Pinóquio
poderiam explicar.
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