Campos
É nos campos que se semeia, se planta e se colhe. Fragmentos de vida
são cultivados, irrigados, podados e preparados para que surjam árvores,
arbustos, vegetações rasteiras e gramíneas, por exemplo. É nos campos que a
relva selvagem e natural corre ilusoriamente, de um lado para outro, quando
acariciada pelos ventos. É nos campos que coexistem as flores e os espinhos, o
solo fértil e a terra árida. Neles estão os alimentos e as casas, as montanhas
azuis e os vales esverdeados.
Na vida humana, há campos em que são plantadas a discórdia, a maldade,
a violência, a guerra inexplicável. Diz o ditado, nesse caso, que quem semeia
ventos colhe tempestades. Podem ser
representados pelos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, pela Segunda Guerra
Mundial e por tantos outras que tingiram de sangue, suor e lágrimas planícies,
vales e montanhas. Também, na vida humana, há campos em que se semeia a paz, a
bondade, a compreensão e a gratidão. Podem ser representados pelas pessoas que
lutam por um mundo melhor, por ideias convergentes e por proposições
evolutivas. Não são pessoas perfeitas, mas buscam a perfeição, algo
inatingível. Campos, o Eduardo, era um dos que tentava ser assim. Arou a terra,
semeou e plantou, mas não a cultivou plenamente.
Um golpe do destino o levou à morte de forma trágica. Após um programa
de televisão de grande audiência nacional em que expôs algumas de suas ideias
como candidato à Presidência da República, entrou em um avião de pequeno porte,
um jatinho, e pensou seguir viagem em direção à novos horizontes. Talvez,
amadurecendo idéias e reescrevendo sonhos em seu caderno de intenções. Uma
explosão fatal levou essas ideias, esses projetos e esses sonhos para o
infinito. Suas possibilidades de tornar-se presidente da república estatisticamente
não eram reais, mas a luta era incessante. Sua verve politica vinha do avô,
Miguel Arraes, também falecido em um 13 de Agosto. Sua dedicação à família e
aos amigos certamente de sua personalidade e de seu carisma.
Seus concorrentes perdem um grande adversário e um amigo de outras
jornadas. A política perde um de seus principais valores contemporâneos, e a
nação, um patriota de corpo e alma. É preciso agora que o ambiente político
recolha das cinzas dessa tragédia as cores da democracia, da vontade de
acertar, da vontade de fazer política de boa qualidade. E sempre lembrar que o
ser humano, politico ou não, é efêmero. Que sua vida é frágil como porcelana
fina. E assim, que aprenda a virtude de construir idéias indeléveis. Aquelas
que se perpetuam na saudade e na lembrança. Como tentou Campos, o Eduardo.
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