Nenhum homem é uma ilha. Assim escreveu
John Donne (1572-1632) em seu marcante poema “No man is an island”. Tempos
depois, Hemingway (1899-1961) referendaria Donne ao escrever que a resposta
para a pergunta “por quem os sinos dobram?” seria “Eles dobram por ti”. A morte
de qualquer pessoa me diminui, pois sou parte da Humanidade. Tanto tempo se
passou, desde ambos, e nós, a Humanidade, ainda não aprendemos essa lição
sublime. Em nome da disputa por territórios, recursos naturais, ideologias ou
religiões procedemos como se ilhas fossemos. Nye em 2003, logo após a invasão
do Iraque, Suzanne em 2004 e Anthony Blinken um pouco antes, apresentaram ao
mundo os conceitos do Smart power, uma ferramenta inteligente para
resolver conflitos. Um contraponto à Diplomacia Transformacional.
O smart power tem por fundamento o soft
power, a capacidade de convencimento e adesão a um propósito comum em termos
geopolíticos, prestigiando a diplomacia e não a imediata ação bélica. Clinton suscitou
a ideia e Obama parece querer adotá-la, mas seus caminhos são sinuosos e
longos. E o tempo, nesse caso, é implacável: ceifa vidas inocentes quando os
governantes se veem como gestores de ilhas e não como artífices do futuro da
Humanidade e insistem na decisão bélica, na lei do mais forte. Do vencedor, do
vitorioso que, mesmo assim sendo, passa a vida gastando com armas e soldados
para se defender de um novo conflito. Morrendo e matando. E vivendo sem razões,
diria Vandré.
Ver o que acontece na Faixa de Gaza, em
pleno 2014 é lamentável, é inaceitável. Não é apenas o Brasil um anão
diplomático, mas todos aqueles que têm o poder de decidir pela parcela de
Humanidade que representam. Há cem anos o mundo conheceu uma de suas maiores
atrocidades, qual seja a Primeira Guerra Mundial, que, ao final, eliminou os
impérios e instituiu as Repúblicas. Vinte anos depois já repetia seus erros,
com o advento da Segunda Guerra, que ao final, praticamente instituiu a Guerra
Fria. Duas potencias no comando da Humanidade. Duas ilhas enormes e poderosas,
como se não fossem de um único continente, o Humano. Apenas, de seus
continentes geográficos.
Hoje, com os conflitos mutilantes no
Iraque, Líbano, Faixa de Gaza, Síria e Israel percebe-se que há uma ausência de
comando legítimo. A Liga das Nações após a Primeira Guerra e a ONU após a
Segunda são tentativas frustradas de tentar organizar ilhas, feudos, e não o
continente humano como um todo. A História nos mostra que somos todos anões.
Nada contra os anões em si, mas estes a que me refiro são míopes e não usam
óculos de grau. Sem colírio, usam apenas óculos escuros, diria Raul. O Seixas.
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