A
Europa, ao longo dos anos, organizou-se como se fosse uma artesã ao costurar uma
colorida colcha de retalhos. Juntando pedaços independentes e amorfos, com
tamanhos irregulares e cores variadas. Porem, mesmo juntando esses
retalhos, via conquistas territoriais, e aglutinando-os em diversas formas de
sociedade como feudos, reinos, ducados e principados, eles mantinham vida e voz
ativas. Além disso, a ambição de avançar sobre outros retalhos, ampliando sua
área têxtil. As cidades precisavam fortificar-se e erguer torres de vigia para
tentar saber qual seria a próxima ameaça de invasão. Lucca, na Itália, é uma
delas e até hoje expõe essa característica com uma impressionante muralha que a
circunda. E na Toscana, as torres de San Gimignano, por exemplo, ainda vigiam o
horizonte daquela linda região.
Com o
tempo vieram os Impérios e as Repúblicas. O relacionamento sociedade-estado
mudou, mas não há dúvida que questões ancestrais em sua grande maioria
transformaram-se em uma tapeçaria bordada com tecidos que o tempo se incumbiu de
descolorir. Nas décadas recentes, inúmeros tratados foram escritos, guerras
foram formalmente concluídas, limites geográficos foram estabelecidos e
restabelecidos. Modelos econômicos sucederam-se e uma tentativa de juntar forças
econômico-sociais transformou parte da geografia europeia em uma União, com
interesses comuns. Inimigos históricos, culturas dilaceradas e ideologias com
mais de meio século de idade passaram a encenar uma peça ionesca no teatro dos
blocos econômicos. Com todos os atores trabalhando em um único enredo.
Há
povos em que a tradição é representada pelo ato de uma mãe reunir retalhos,
pedaços da trajetória de vida de suas filhas e netas, costura-las em uma colcha
e presenteá-las. Assim surgiu a União Europeia, um presente da geração de uma
Europa dividida para uma geração de integração e harmonia. Dos Alpes austríacos
às gondolas de Veneza; dos lagos suíços às praias de Barcelona; de Vermeer à
Michelangelo, de Shakespeare à Voltaire. Sempre, com liberdade de transito
pessoal. E isso fez surgir, por mais paradoxal que possa parecer, uma vontade de
independência.
A Escócia busca sua independência do Reino Unido, com consultas
populares e arcabouços legais. O mesmo acontece com a Catalunha, cuja expressão
maior, Barcelona, se prepara há tempos para essa independência e tudo indica que
ela está muito próxima. A recente fragilização da monarquia espanhola pode
acelerar esse processo constitucional. Até uma língua própria, o catalão, já tem
uso na dinâmica cotidiana. Que a paz os ilumine e
os guie.
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