O filme “Lincoln”, de Spielberg,
parece que foi feito para a televisão. Aqueles seriados entediantes. Claro que
a atuação de Daniel é soberba, mas a ausência dos verdadeiros questionamentos
políticos e sociais, inclusive o de seu assassinato por John Wilkes Booth, é
lamentável para um filme com aquele tempo de duração. Se fossem os dias atuais,
Spielberg teria filmado o “Mensalão”. Uma festa de distribuição de cargos e
favores para atingir o êxito em uma votação. Os meios
justificam os fins? Ou os fins justificam os meios? Nada disso é questionado.
Gore Vidal e Paulo Francis gastariam poucos minutos para criticá-lo, creio eu.
Essa visão da tradição
patriarcal, protecionista e populista registrada nas idas aos campos de batalha
- essa é a cena inicial do filme – permite antever as doses populistas na
construção de um carisma nacional. O herói nacional é simples: an ordinary man.
Bush e Obama, como todos os presidentes na História, também foram aos campos de
batalha no Oriente Médio. Marylin, of course.
Os novos prefeitos têm vivido
essa mesma situação em seus primeiros dias de trabalho. Muitos os procuram com
a expectativa da bondade refletida no loteamento dos cargos públicos, dizem ser
amigos dos amigos e que participaram nas campanhas que os elegeram. A percepção
da amizade se mistura com a percepção do poder que lhes foi atribuído: as
nomeações para cargos comissionados. Como diria Roberto, a casa, a rua e a
prefeitura se tornam um mesmo espaço social, de acordo com o pensamento
popular.
Outros segmentos entendem que há
um jogo político em curso e que aliados estratégicos não podem ficar de fora da
administração pública que se inicia. Como se fossem degraus para postos mais
elevados. Quando os novos prefeitos tentam pular esses degraus eu lembro de Nietzche
ao dizer: “Pulo degraus freqüentemente quando subo. Coisa que os degraus não me
perdoam”.
Assim como em “Lincoln” tudo
poderia ser resolvido pelo jeitinho, pelo improviso. No filme, um cargo de
diretor dos correios – o meio de comunicação mais importante da época – poderia
render um valioso voto. Outro, por dinheiro mesmo. Como mostra uma cena hilária.
Spielberg fez um filme muito bom, mas menor em termos de vencer um Oscar. Muito
bem filmado, em sombras e penumbras – difícil para o fotógrafo – mas optou por
ser prolixo sem ser assertivo.
Os atuais prefeitos deveriam ver “Lincoln”
para confirmar que o problema não é tupiniquim, nem é novo.
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