Monday, November 05, 2012

Paparazzis e jornalistas





     Eu sou um desses curiosos por cinema. Assim, quando viajo ao exterior sempre tento encontrar algumas preciosidades históricas. Foi assim que revi ontem “Roman Holiday”. Um filme de 1953, com Gregory Peck, o galã da época, e Audrey Hepburn, então em seu primeiro filme importante. Um filme muito agradável, extremamente bem filmado por Wyler e com ótimo roteiro de Dalton Trumbo. Aliás seu crédito no filme só foi aparecer anos mais tarde por que foi vítima do caça as bruxas, os supostos comunistas. Coisas de um norte-americanismo radical.  Peck foi, como sempre, elegante tanto no filme quanto fora dele.

 
      Por exemplo, solicitou ao diretor que o nome de Audrey figurasse ao lado do seu nos cartazes e divulgação.  Ela era uma iniciante, mas ele já era um ícone e poderia ter exigido apenas seu nome como destaque. Audrey, que na vida real teve uma vida muito difícil, pois teve uma infância assombrada pelo nazismo, na Holanda, personificou sensivelmente uma princesa inconformada. E ganhou o Oscar. O filme é uma aula de estética, timing, takes, enquadramentos, diálogos e mensagens subliminares. Inesquecível.

 
     Fico imaginando quem tinha idade naquela época, 1953, para vê-los no cinema e passear pela majestosa Roma. Sem internet, vivendo de cartões-postais, almanaques e enciclopédias para conhecer o mundo e de revistas mensais para ver seus ídolos. Deve ter sido um enorme prazer. Até hoje o filme causa impacto reflexivo sobre o ser humano, os valores que cultua e os princípios que pratica. Bom para paparazzis e jornalistas completarem sua formação, com a cena da entrega das fotos.

     O interessante é que Dalton utiliza a mágica fórmula de sucesso em um roteiro que pode ser observado em inúmeros filmes norte-americanos. Há uma situação “normal”, que depois fica “anormal”, indesejada e então surge alguém – um estranho - que a “corrige”. O final desse clássico mostra que o “mocinho”, o homem de bem, tem o mesmo fim que tantos outros nesse padrão de cultura social. Você vai reparar que mesmo os filmes mais recentes, blockbusters, tendem ter esse roteiro e o mesmo final em relação ao seu protagonista maior. Ah, e a fotografia, em preto e branco, é simplesmente sublime. Aula para a geração das máquinas digitais.        

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