Eu vinha andando pela calçada,
assim distraído, em direção ao meu apartamento, na Praia da Costa. Próximo ao portão
de entrada ouvi alguém chamar: “Professor!” Eu procurei em volta e não vi ninguém,
mas uma voz vinda de uma escada, disse. “Sou eu professor, vejo você sempre em A Tribuna , no Bom Dia
ES, da TV Gazeta, e no programa da Taís Venâncio da TV Vitória também” “Leio e
escuto tudo direitinho” acrescentou ele. Era um senhor de idade próxima de uns
50 anos e muito sorridente, cuidando de um jardim suspenso.
Um jardineiro de cor negra,
uniforme limpo e passado, muito humilde e feliz por me ver pessoalmente. Eu
fiquei atônito, desprevenido, emocionado por uma manifestação tão espontânea
como aquela. As pessoas humildes não sentem inveja das outras pessoas; sentem
orgulho por elas, eu percebi isso no brilho de seus olhos.
E, sorriso branco entre os
lábios, perguntou: “professor o senhor acha que eu devo assinar um contrato com
um escritório de advocacia que promete reduzir em 50% a mensalidade de um carro
que comprei. Ato contínuo apontou um Gol verde claro, talvez do meado da década
passada, um 2005, quem sabe. Lavadinho e bem estacionado. Eu o orientei e
perguntei se estava com prestações atrasadas. Ele disse: Ao contrário professor
pago sempre algumas parcelas adiantadas e de trás pra frente. Ou seja, paga
parcelas futuras obtendo bons descontos.
Perguntei se tinha filhos e
estudavam. Disse, então, que seu filho conseguira a única vaga disponível para
bolsa de estudos do curso superior de Gestão Portuária, para uma Universidade
particular, concorrendo com vários pretendentes. Seus olhos brilhavam de
orgulho do filho. Seu nome é Marciano. Um brasileiro que tem renda tímida ganha
dinheiro honestamente e consegue ter suas contas em dia. E educar um filho dignamente. Um brasileiro que sorri
e elogia as pessoas que por alguma razão admira.
Esse é o Brasil que queremos. Um
Brasil com milhares de Marcianos.
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