Certa vez, quando recebi um
telefonema de José Irmo, então jornalista da Rede Gazeta, solicitando um artigo
para a coluna opinião eu também o ouvi dizer que me considerava um dos melhores
cronistas daquela página do jornal. Percebi ser um elogio sincero, sem qualquer
perspectiva bajulatória já que desnecessária seria. Fiquei orgulhoso, claro,
pela qualidade da opinião. Hoje eu quero fazer o mesmo em relação a Andréia
Lopes, também da Rede Gazeta. Que me perdoem os demais articulistas, mas seu
texto é sempre elogiável, ímpar, ungido pela aura nívea das palavras autônomas.
As palavras parecem dançar ao compasso do texto, com tempos e contratempos, com
tons e semitons. Sob a regência de sua inteligência e intuição. Nessa manhã de
um domingo de sol inicialmente tímido, sentei-me ao sofá e li os jornais. Lá
encontrei o texto da Andréia sobre o Desembargador Pedro Feu Rosa.
Ambos, o desembargador e a
jornalista, são pessoas que conheço, mas não posso dizer que sou um amigo
pessoal, muito próximo. Dele posso dizer apenas que fui aluno de seu pai, na
UFES, quando cursava Economia. Na mesma sala um outro aluno: Paulo Hartung. Um bom professor, o Antônio José. Dela, posso dizer que foi
minha aluna, em um curso de pós-graduação. Uma boa aluna. Com ele tenho pouco
contato, quase nenhum. Já com ela, pelo jornalismo em si, troco algumas
figurinhas pela internet. Sempre muito agradáveis. Pois bem, li o texto da
Andréia sobre o desembargador. Genial, não tenho dúvida de dizer. Para quem não
escreve em jornais parece fácil escrever um texto. Mas, não sabe que há uma
série de limites, como tamanho do espaço disponível, o cuidado com a leviandade
dos argumentos que podem gerar ações jurídicas e a clareza do texto para
centenas de pessoas de escolaridades e formações diferenciadas. O texto da
Andréia hoje é uma aula de como escrever um bom texto sobre um tema complexo.
E ele me fez pensar sobre o “leit
motiv” de Pedro Feu Rosa. Como aquele livro do Viktor Frankl mostra. O sentido
das ações, da vida. O nosso viver se resume a uma busca incessante por um
motivo, um sentido de viver. E creio que vislumbrei o de Pedro. Muitas pessoas têm
como ícone maior de suas vidas o próprio pai. Este, um espelho unidimensional,
com luz própria e incomparável. A tradução desse sentimento está na
reciprocidade de um amor paternal. Em meu entender, Pedro quer seguir os passos
do pai. Seguiu a carreira jurídica e tornou-se desembargador. Tem, ainda,
pretensões de estar no Supremo. Seu pai, Antônio José, escrevia regularmente em A Tribuna. Pedro
assumiu essa função e tem a mesma verve textual de seu pai. O que lembro, do
pouco tempo que travei contato com seu pai, enquanto fui seu aluno, é que
Antônio José gostava muito de política. Creio que chegou a ser deputado
estadual. Quem sabe, Pedro, iluminado pelas aspirações do falecido pai, tenha as
mesmas intenções. Ser político. Os políticos competitivos, via de regra,
conhecem os temas que melhor convencem um eleitorado indeciso. E Pedro já
mostrou que é assim.
Certa vez, recebemos no Tribunal
de Justiça um grupo de alunos de direito da West Virginia University. Como o
desembargador Pedro havia visitado aquele estado e se hospedado na casa de um
magistrado, coube a ele fazer as saudações aos visitantes. Depois de um welcome
e um good morning, ele disse: “vocês estão no Brasil e usarei a minha língua
nativa para saudá-los”. E passou a falar em português. Eu fiquei
pasmo, estático e surpreso, mas logo iniciei uma tradução simultânea para que
nossos convidados entendessem o nobre desembargador. Não foi uma deselegância,
creio eu, mas uma demonstração de nacionalismo. Talvez seu pai assim também
tenha sido. E Pedro, inesperadamente,
demonstrou isso de uma maneira muito peculiar. Como faz agora, em sua decisão
judicial. Será que seu pai um dia pensou em ser governador do Estado?
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