Sunday, April 29, 2012

Andréia Lopes, Pedro e sentido da vida.



Certa vez, quando recebi um telefonema de José Irmo, então jornalista da Rede Gazeta, solicitando um artigo para a coluna opinião eu também o ouvi dizer que me considerava um dos melhores cronistas daquela página do jornal. Percebi ser um elogio sincero, sem qualquer perspectiva bajulatória já que desnecessária seria. Fiquei orgulhoso, claro, pela qualidade da opinião. Hoje eu quero fazer o mesmo em relação a Andréia Lopes, também da Rede Gazeta. Que me perdoem os demais articulistas, mas seu texto é sempre elogiável, ímpar, ungido pela aura nívea das palavras autônomas. As palavras parecem dançar ao compasso do texto, com tempos e contratempos, com tons e semitons. Sob a regência de sua inteligência e intuição. Nessa manhã de um domingo de sol inicialmente tímido, sentei-me ao sofá e li os jornais. Lá encontrei o texto da Andréia sobre o Desembargador Pedro Feu Rosa.   



Ambos, o desembargador e a jornalista, são pessoas que conheço, mas não posso dizer que sou um amigo pessoal, muito próximo. Dele posso dizer apenas que fui aluno de seu pai, na UFES, quando cursava Economia. Na mesma sala um outro aluno: Paulo Hartung. Um bom professor, o Antônio José. Dela, posso dizer que foi minha aluna, em um curso de pós-graduação. Uma boa aluna. Com ele tenho pouco contato, quase nenhum. Já com ela, pelo jornalismo em si, troco algumas figurinhas pela internet. Sempre muito agradáveis. Pois bem, li o texto da Andréia sobre o desembargador. Genial, não tenho dúvida de dizer. Para quem não escreve em jornais parece fácil escrever um texto. Mas, não sabe que há uma série de limites, como tamanho do espaço disponível, o cuidado com a leviandade dos argumentos que podem gerar ações jurídicas e a clareza do texto para centenas de pessoas de escolaridades e formações diferenciadas. O texto da Andréia hoje é uma aula de como escrever um bom texto sobre um tema complexo.



E ele me fez pensar sobre o “leit motiv” de Pedro Feu Rosa. Como aquele livro do Viktor Frankl mostra. O sentido das ações, da vida. O nosso viver se resume a uma busca incessante por um motivo, um sentido de viver. E creio que vislumbrei o de Pedro. Muitas pessoas têm como ícone maior de suas vidas o próprio pai. Este, um espelho unidimensional, com luz própria e incomparável. A tradução desse sentimento está na reciprocidade de um amor paternal. Em meu entender, Pedro quer seguir os passos do pai. Seguiu a carreira jurídica e tornou-se desembargador. Tem, ainda, pretensões de estar no Supremo. Seu pai, Antônio José, escrevia regularmente em A Tribuna. Pedro assumiu essa função e tem a mesma verve textual de seu pai. O que lembro, do pouco tempo que travei contato com seu pai, enquanto fui seu aluno, é que Antônio José gostava muito de política. Creio que chegou a ser deputado estadual. Quem sabe, Pedro, iluminado pelas aspirações do falecido pai, tenha as mesmas intenções. Ser político. Os políticos competitivos, via de regra, conhecem os temas que melhor convencem um eleitorado indeciso. E Pedro já mostrou que é assim.



Certa vez, recebemos no Tribunal de Justiça um grupo de alunos de direito da West Virginia University. Como o desembargador Pedro havia visitado aquele estado e se hospedado na casa de um magistrado, coube a ele fazer as saudações aos visitantes. Depois de um welcome e um good morning, ele disse: “vocês estão no Brasil e usarei a minha língua nativa para saudá-los”. E passou a falar em português. Eu fiquei pasmo, estático e surpreso, mas logo iniciei uma tradução simultânea para que nossos convidados entendessem o nobre desembargador. Não foi uma deselegância, creio eu, mas uma demonstração de nacionalismo. Talvez seu pai assim também tenha sido. E Pedro, inesperadamente, demonstrou isso de uma maneira muito peculiar. Como faz agora, em sua decisão judicial. Será que seu pai um dia pensou em ser governador do Estado?

      

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