Hoje tem o lançamento do livro "Recortes" de Paulo Hartung. O primeiro recorte que eu vejo no Paulo é o seu tempo
de UFES, Universidade federal do Espirito Santo. Foi ali que o conheci. Barbudo,
olhar aguçado, crítico contundente do regime militar e ousado defensor das
liberdades democráticas. Éramos estudantes do Centro de Ciências Sociais e a
cantina do Carlinhos um ponto de encontro dos colados e dos descolados. Lembro
que gostava de discursar, pessoas sentadas ao seu redor, no chão ou nas
cadeiras universitárias, literal e metaforicamente quero dizer. Lembro-me dele
sempre acompanhado do Neivaldo Bragato e do Stan que era da minha sala. Claro,
tinha o Haroldo Correa também. Por assim
dizer, Paulo era um militante ativo contra a política existente.
O segundo recorte que me lembro do Paulo é a sua
transformação em um político vitorioso. A partir de seu primeiro mandato eu o
vi aproximar-se de figuras daquele mundo político que uma geração inteira
criticara antes. Vitória era – e continua sendo – um lugar de baixa densidade
na representação política de modo que os políticos proeminentes ainda eram da
época do regime militar. Aqueles mesmos que na cantina do Carlinhos tinham suas
orelhas queimando de tanto se falar deles. Das grandes empresas, também se
aproximava. A explicação que encontrei foi que Paulo passava de revolucionário
para reformista. Que sua estratégia seria fazer parte do jogo para mudar as
variáveis indesejáveis desse mesmo jogo. O jogo politico. Lula fez isso
recentemente, sem muito sucesso. Juntou-se a um dos piores quadros de corrupção
e incompetência jamais vistos.
O terceiro recorte que faço do Paulo é sua fase atual. O
Ícone, a referencia política, o paradigma conjuntural. Tem como súditos muitos
daqueles que antes foram considerados vassalos. Pode tanto ter conquistado a
admiração daqueles que o acompanhavam quanto daqueles que criticava. Também,
ter frustrado os antigos combatentes mais ardorosos. Muitos acham que ele é uma
mistura de Maquiavel com Sun Tzu, de Clausewitz com Jomini, de Cesar com Napoleão.
Esse terceiro recorte parece levar Paulo de volta ao tempo de estudante de economia. Também o levará, quem
sabe, a crítico e militante ativo do mundo político, social e econômico contemporâneo.
Afinal, Paulo vive fazendo cortes. E recortes, principalmente. Sempre afiados.
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