Wednesday, March 28, 2012

Recortes de Paulo Hartung


Hoje tem o lançamento do livro "Recortes" de Paulo Hartung. O primeiro recorte que eu vejo no Paulo é o seu tempo de UFES, Universidade federal do Espirito Santo. Foi ali que o conheci. Barbudo, olhar aguçado, crítico contundente do regime militar e ousado defensor das liberdades democráticas. Éramos estudantes do Centro de Ciências Sociais e a cantina do Carlinhos um ponto de encontro dos colados e dos descolados. Lembro que gostava de discursar, pessoas sentadas ao seu redor, no chão ou nas cadeiras universitárias, literal e metaforicamente quero dizer. Lembro-me dele sempre acompanhado do Neivaldo Bragato e do Stan que era da minha sala. Claro, tinha o Haroldo Correa também.  Por assim dizer, Paulo era um militante ativo contra a política existente.

O segundo recorte que me lembro do Paulo é a sua transformação em um político vitorioso. A partir de seu primeiro mandato eu o vi aproximar-se de figuras daquele mundo político que uma geração inteira criticara antes. Vitória era – e continua sendo – um lugar de baixa densidade na representação política de modo que os políticos proeminentes ainda eram da época do regime militar. Aqueles mesmos que na cantina do Carlinhos tinham suas orelhas queimando de tanto se falar deles. Das grandes empresas, também se aproximava. A explicação que encontrei foi que Paulo passava de revolucionário para reformista. Que sua estratégia seria fazer parte do jogo para mudar as variáveis indesejáveis desse mesmo jogo. O jogo politico. Lula fez isso recentemente, sem muito sucesso. Juntou-se a um dos piores quadros de corrupção e incompetência jamais vistos.

O terceiro recorte que faço do Paulo é sua fase atual. O Ícone, a referencia política, o paradigma conjuntural. Tem como súditos muitos daqueles que antes foram considerados vassalos. Pode tanto ter conquistado a admiração daqueles que o acompanhavam quanto daqueles que criticava. Também, ter frustrado os antigos combatentes mais ardorosos. Muitos acham que ele é uma mistura de Maquiavel com Sun Tzu, de Clausewitz com Jomini, de Cesar com Napoleão. Esse terceiro recorte parece levar Paulo de volta ao tempo de  estudante de economia. Também o levará, quem sabe, a crítico e militante ativo do mundo político, social e econômico contemporâneo. Afinal, Paulo vive fazendo cortes. E recortes, principalmente. Sempre afiados.

No comments: