Eu fiquei olhando a televisão, vendo e ouvindo o jornalista Vinícius Baptista e a Juíza Patricia Neves ao longo de uma entrevista. Incrívelmente fez-se um silêncio inabalável, tocante e contundente. Havia os sons matinais de um dia que começa, as vozes do entrevistador e da entrevistada, mas o que imperava era o silêncio demolidor de uma revelação incontida: o descaso com a vida humana em sua fase de formação social. A incompetência de o Estado tratar a infância e a juventude. O depoimento de uma juíza inconformada, frustrada e ao mesmo tempo disposta a encontrar uma solução e a dedicar-se mais ainda apesar de atingida pelo cancer, já curado. Em meio ao caos que todos nós vemos diariamente e que estava sendo relatado o que me chamou a atenção foi a serenidade da juiza, sua franqueza tênue e sua verve humanista.
Essa histórica entrevista nos leva a pensar sobre a geração, a acumulação e a distribuição da riqueza que a humanidade tanto busca. Sobre a natureza dos investimentos que são feitos para alcançá-la gananciosamente. Auutoridades públicas estão ansiosas por apresentar números economicamente expressivos e obras romanescas. Escolas e saúde básica não estão nessa busca. O tema da entrevista seria aderente a Wagner com suas harmonias walkirianas, mas Patricia Neves, apesar de todo o inconformismo, de toda a dor reprimida em seu idealismo Waldeniano, fez-se aderente a Grieg, a Debussy. Com lampejos de Mozart na inteligência de suas considerações.
Infelizmente, o Estado brasileiro parece mais interessado em investigar juizes que dar-lhes condições ideais de trabalho. E o cidadão, em criticar seus salários. Um juiz, para se ter uma idéia, teria que trabalhar duramente por quase dois anos para ganhar o que ganha uma cantora de axé music em uma única apresentação. Colocam a vida em risco, têm a responsabilidade de decidir o destino de um ser humano, da consagração de seus direitos e nem sempre têm as condições necessárias para exercer sua profissão. Enquanto nós, brasileiros, assim procedermos estaremos inviabilizando o futuro que essa nação verdadeiramente merece.
Parabéns ao jornalista Vinícius Baptista pela competência em deixar aflorar o sentimento humano da juíza e meu muito obrigado, Patrícia, pela belissima Ode à vida infanto-juvenil.
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