Wednesday, October 05, 2011

Lula, Raul e a luneta de Galileu


    Poucas vezes um país teve tantas oportunidades de se tornar vigoroso, forte e saudável quanto o Brasil na última década. Com uma política econômica bem formulada após o Plano Real, sem oscilações inflacionárias ou deflacionárias de porte ao longo desses últimos anos, o país viu a bombordo e a estibordo ventos tempestuosos e traiçoeiros passarem ao largo de sua imensa costa. Não só ventos dilacerantes, mas terremotos e inundações pouca vezes vistas pela humanidade sequer tomaram conhecimento de nosso país tropical. Atentados, disputas étnicas ou religiosas também não nos afligiram. O partido dos trabalhadores, outrora baluarte das mudanças sociais, aboletou-se na bolsa família como um canguru faminto e dócil. Os sindicatos que tanto lutaram por anos que não acabaram içaram largas bandeiras brancas. Criou-se a condição ideal: estabilidade política, estabilidade econômica e consenso social. O futuro parecia haver chegado.

     Estou relendo Galileu e Newton e lembrei da angústia de Galileu ao apresentar sua inédita luneta: "prestaram mais atenção na luneta que nas estrelas, algo que eu não consigo inventar, criar". Pois bem, assim fez o nosso país. Lula quis ser a própria luneta e esqueceu da astronomia social e econômica que o país precisa desvendar. Elogiou-se, paramentou-se, apresentou-se ao mundo como se uma luneta fosse. O mundo não olhou para o firmamento – o Brasil – mas, para o ex-presidente. E estamos como sempre fomos. Ricos em recursos naturais, ricos em clima temperado, ricos em pessoas trabalhadoras e amáveis, ricos em belezas naturais e pobres como dantes. Melhoramos muito em vários setores, mas não o suficiente para assumir um papel de relevância global concreta.  Continuamos sendo uma promessa. Das boas, claro.

     O cenário é propício para uma economia como a brasileira ocupar espaços globais melhorando as condições de vida de seu povo. A Europa despedaçada, a América do Norte retraída, a Ásia sem liberdade democrática, a América do Sul desestimulada, mas o Brasil - o “continente” que é - rico como ouro de tolo, diria Raul Seixas.         

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