Kadafi intitulou-se o Rei dos
Reis. Já houve alguém que assim o mundo ocidental intitulou. Porem,
diferentemente, Kadafi era um déspota sanguinário, um exterminador cruel de
adversários. Mas, mesmo sendo assim por muitos anos foi também por longos anos
amigo e fornecedor de petróleo para os grandes países democráticos, para os
baluartes da ética e dos direitos humanos. Sua ascensão lembra um pouco a de
Chaves, na Venezuela, pois se relaciona ao uso do petróleo da Líbia pelos
Estados Unidos e outros países. Depois da segunda guerra mundial a “cabeça” da
África ficou sob domínio da França e da Inglaterra. Mas a Líbia, por interesses
geopolíticos da Itália ficou sob influência colonizadora italiana. Na verdade
isso promoveu uma intensa apropriação de recursos naturais daquele país sem a
justa remuneração devida. Com a independência da Líbia em 1951, Idris I era o
rei que dava anuência tácita a essa situação. Quando houve uma oportunidade,
Kadafi, que estudara na Inglaterra, participou do movimento que assumiu o país,
depondo a realeza. Isso foi em 1969. Lembrem que a crise do petróleo viria em
1972, com a OPEP.
Não estava fácil para o mundo
ocidental, no início dos anos 1970, encarar essa nova situação e Kadafi bebeu
do mesmo cálice que Hitler, Mussolini, César e Napoleão beberam, tornando-se um
déspota brutal com seus adversários. Nada muito estranho para a cultura daquele
povo, olho por olho, dente por dente. Kadafi só ficou no poder por longos anos
porque fez o jogo ocidental. Foi recebido e homenageado pelos principais
líderes globais, sabedores do que lá já ocorria. Estavam felizes com os milhões
que ele depositava em seus bancos e dos títulos públicos que ele comprava
ajudando suas economias oscilantes. Inclusive, em algumas situações, ajudou com
dinheiro para campanha política. Manteve o controle sobre o povo líbio com seu
livro verde e assim o país riquíssimo em petróleo ajudava o mundo capitalista
ocidental. Matando gente se preciso fosse. Mas, de graça, como sempre fora,
não. Nem que esse dinheiro fosse só para ele aumentar seu patrimônio. E nunca
cobrou barato.
Com a crise global e a convulsão
gerada pela péssima decisão de Bush, a geopolítica de poder precisou ser
revista. Era preciso gerar novo caos na África e no Oriente Médio. Passou a ser
necessário renovar os déspotas ou estabelecer uma democracia mais conveniente
que o despotismo caro e vaidoso. A OTAN, dentre outras inutilidades, serve para
isso. Trocar a geopolítica de poder, como agora. A frase final de Kadafi, antes
de ser esbofeteado pela multidão, uma horda tão hostil quanto ele próprio, é de
uma lucidez de Rei dos Reis: “você consegue distinguir o certo do errado?”
pergunta ele a quem lhe espanca. Um outro personagem de nossa história,
intitulado Rei também duvidou se seus algozes sabiam o que faziam.
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