Saturday, October 22, 2011

Kadafi, Rei dos Reis?


Kadafi intitulou-se o Rei dos Reis. Já houve alguém que assim o mundo ocidental intitulou. Porem, diferentemente, Kadafi era um déspota sanguinário, um exterminador cruel de adversários. Mas, mesmo sendo assim por muitos anos foi também por longos anos amigo e fornecedor de petróleo para os grandes países democráticos, para os baluartes da ética e dos direitos humanos. Sua ascensão lembra um pouco a de Chaves, na Venezuela, pois se relaciona ao uso do petróleo da Líbia pelos Estados Unidos e outros países. Depois da segunda guerra mundial a “cabeça” da África ficou sob domínio da França e da Inglaterra. Mas a Líbia, por interesses geopolíticos da Itália ficou sob influência colonizadora italiana. Na verdade isso promoveu uma intensa apropriação de recursos naturais daquele país sem a justa remuneração devida. Com a independência da Líbia em 1951, Idris I era o rei que dava anuência tácita a essa situação. Quando houve uma oportunidade, Kadafi, que estudara na Inglaterra, participou do movimento que assumiu o país, depondo a realeza. Isso foi em 1969. Lembrem que a crise do petróleo viria em 1972, com a OPEP.

Não estava fácil para o mundo ocidental, no início dos anos 1970, encarar essa nova situação e Kadafi bebeu do mesmo cálice que Hitler, Mussolini, César e Napoleão beberam, tornando-se um déspota brutal com seus adversários. Nada muito estranho para a cultura daquele povo, olho por olho, dente por dente. Kadafi só ficou no poder por longos anos porque fez o jogo ocidental. Foi recebido e homenageado pelos principais líderes globais, sabedores do que lá já ocorria. Estavam felizes com os milhões que ele depositava em seus bancos e dos títulos públicos que ele comprava ajudando suas economias oscilantes. Inclusive, em algumas situações, ajudou com dinheiro para campanha política. Manteve o controle sobre o povo líbio com seu livro verde e assim o país riquíssimo em petróleo ajudava o mundo capitalista ocidental. Matando gente se preciso fosse. Mas, de graça, como sempre fora, não. Nem que esse dinheiro fosse só para ele aumentar seu patrimônio. E nunca cobrou barato.

Com a crise global e a convulsão gerada pela péssima decisão de Bush, a geopolítica de poder precisou ser revista. Era preciso gerar novo caos na África e no Oriente Médio. Passou a ser necessário renovar os déspotas ou estabelecer uma democracia mais conveniente que o despotismo caro e vaidoso. A OTAN, dentre outras inutilidades, serve para isso. Trocar a geopolítica de poder, como agora. A frase final de Kadafi, antes de ser esbofeteado pela multidão, uma horda tão hostil quanto ele próprio, é de uma lucidez de Rei dos Reis: “você consegue distinguir o certo do errado?” pergunta ele a quem lhe espanca. Um outro personagem de nossa história, intitulado Rei também duvidou se seus algozes sabiam o que faziam.  

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