Alberto é um negro, talvez
mulato. Tem um biótipo de ascendência africana, dos nativos daquele belíssimo
continente. Tem o sorriso aberto e os dentes alvos dos nascidos lá. Sua gente,
no início de nossa história era escrava. Servia as pessoas nos afazeres
domésticos e carregava-as na liteira, sobre os ombros delineados pelo dorso nu,
descamisado. Carregava também suas latrinas mal cheirosas no topo de suas
cabeças escravizadas, como o próprio corpo, em seu pensar, em seu desejo de
estudar. Com o tempo, essa gente mostrou o seu valor, as suas inegáveis
qualidades culturais e a sua contribuição para a formação de nosso país é de um
valor imensurável. Apesar de nem sempre nossa gente, européia ou africana,
reconhecer isso. Se antes éramos uma selva quase inabitada hoje parecemos ser
uma selva densamente habitada. Temos medo do próximo, de conhecer o próximo, de
ajudar o próximo. Feras que se entreolham, assustadas.
Foi assim com Alberto,
infelizmente. Trabalhador, ele empregou-se no shopping, pelo que diz a
imprensa, e servia as pessoas no cotidiano da vida alegre dos consumidores em festa. A Casa Grande e a
Senzala agora ocupam o mesmo espaço físico e as pessoas, modernos senhores de
engenho e escravos disciplinados, convivem abertamente, mas ainda socialmente
hierarquizados. Descendentes de africanos não mais carregam liteiras, pois
dirigem automóveis de madames. Não mais carregam latrinas morro abaixo, mas
limpam banheiros. O que importa é que continuam servindo as pessoas, cuidando
delas, especialmente em suas residências. As Donas Maria da vida, solitárias
nos quartinhos de empregada ou amarrotadas nos ônibus que as levam para a
senzala, ao saírem da casa grande, na cidade.
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