Monday, June 06, 2011

manifestações populares


Eventos recentes de ampla repercussão, como a questão do enriquecimento do ministro Palocci em nível nacional e do movimento estudantil e cívico em nível local, nos levam a refletir sobre os princípios das escolhas democráticas. Há uma percepção de que a democracia se permite escolher políticas públicas ruins. O professor Kaplan, apresenta, em seu livro “O mito do eleitor racional: porque a democracia escolhe más políticas públicas”, alguns argumentos que são mais válidos para o processo eleitoral norte-americano, onde o voto não é obrigatório. Mesmo assim é possível fazer inferências para outras metodologias de escolhas políticas, como a brasileira, principalmente quanto aos princípios da ignorância racional e da falácia da composição.
O primeiro tem por base o possível entendimento por parte dos eleitores que seu voto isolado tem pouca importância, pois não mudará os fatos e o resultado. O efeito manada predominaria no resultado final. E assim, ele valoriza muito pouco ou quase nada a sua própria escolha. Muitas vezes ele vota até para não “perder” a ida até o local de votação. Desse modo, pode-se inferir que ele pouco se atem às políticas públicas e pode, então, ser vítima de sua má formulação e uso. Ao não buscar o conhecimento racional ele se transforma em um exemplo do exercício civil da ignorância racional. Mais tarde, não satisfeito com as políticas públicas em vigor, culpa os políticos. É possível dizer também que ao desvalorizar a sua própria participação ele acabe oferecendo seu voto a um amigo ou parente, como se fosse algo plenamente descartável. O voto, desse modo, não se direciona a uma política pública, mas a uma pessoa.
Após as eleições, na vida cotidiana, sua insatisfação pode continuar e muitas vezes suas cobranças e reclamações são endereçadas ao Governo, um ente abstrato, intangível. Raramente dirigem-se aos representantes que elegeu para formulação, avaliação e correção das políticas públicas. Muitos até nem lembram bem em quem votaram. Para tangibilizar suas manifestações, de forma geral, realizam passeatas ou greves que afetam a vida produtiva de milhares de pessoas, transtornando seus dias. O caminho mais curto para denúncias e apresentação de insatisfações parece ser esse, aceito como um movimento legítimo. Porém, a meu ver, desde que não impeça o livre arbítrio de se ir de um lugar a outro a qualquer momento. Pela leitura de Kaplan é possível assumir que as escolhas eletivas fossem melhores quanto maior fosse o nível de conhecimento da sociedade, de sua escolaridade. Entendo, ademais, que elas seriam melhores na medida em que as pessoas fossem mais comprometidas com o coletivo.
É muito comum os eleitores pensarem em si próprios antes de desejarem o bem comum, a qualificação das políticas públicas. É quando se permite a realização da falácia da composição, como dizem os economistas. O que é melhor para uma pessoa não necessariamente é melhor para um conjunto de pessoas, como a população de um país. Pensando em si próprio, o eleitor acaba excluindo a coletividade, mas a ela se referenciando e transtornando. A questão da democracia no Brasil e sua adequada representatividade não podem prescindir de uma reforma que amplie sua melhoria contínua, mas sem dúvida nada melhorará de forma substancial enquanto não houver nas escolas públicas e nas famílias brasileiras a construção da cidadania. A consciência de que ela é uma atitude pessoal que não busca um benefício próprio, mas, sempre, a construção de políticas públicas. Então, escolheremos melhor. E quando não, saberemos a quem cobrar.

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