Muitos argumentam que a ditadura militar veio para acabar com a corrupção. Para colocar ordem na casa já que a “vassourinha” do presidente Jânio não varrera nada. É preciso lembrar que Jânio foi eleito logo após a construção de Brasília e que toda grande obra em nosso país normalmente é alvo de especulações e suspeitas de corrupção. Daí talvez o aceite por boa parte da população dessa justificativa simplória. Mas o que é mais aceitável é que Jânio, após dois projetos bem nacionalizantes de governo com Getúlio e Juscelino, acrescentou algo mais inconveniente ao mundo de então, bipolar. Inconveniente, naturalmente, para o modelo capitalista de produção e consumo. Desde o “Big Stick” de Teddy Roosevelt e a política da boa vizinhança de Delano Roosevelt, a América Latina era palco dos interesses comunistas e capitalistas. Tanto que Kennedy criou a Aliança para o Progresso.
Mas Jânio, com sua irreverencia peculiar, resolveu condecorar Fidel e Che Guevara, inclusive recebendo entusiasticamente o revolucionário argentino em Brasília. Seu Vice, Jango, ia tanto à China comunista quanto ao EUA. Vencendo com o lema “varrer a corrupção”, Jânio passou a governar com o lema “condecorando a revolução cubana”. É claro que isso preocupou a solidariedade continental que vem desde a Doutrina Monroe e logo forças ocultas se movimentaram. Elevadas patentes dos principais quartéis circulavam pelos bastidores e nem mesmo a vitória da seleção brasileira de futebol em 1962 foi suficiente para acalmar seus ânimos. O medo ao comunismo transformava-se em pavor. Veio a ditadura militar, com força e repressão.
Nesse cenário surgem a resistência e o desagravo pelo fim do Estado de Direito. Algumas pessoas buscavam a liberdade caminhando e cantando pelas ruas. Somos todos iguais, braços dados ou não, diziam eles. Mas não era fácil. O Exército e a Polícia Militar tinham armas mais potentes que meros refrãos musicais ou peças teatrais. E veio, então, a necessidade da clandestinidade. Dos “aparelhos” com mimeógrafos que reproduziam versos que não podiam ser cantados em público. Houve um movimento de esquerda dividido em reformistas e revolucionários. Alguns queriam propor mudanças estruturais; outros, a tomada do poder. É possível dizer que essa tenha sido a origem do PT, Partido dos Trabalhadores.
Essa vertente petista foi moralmente destruída pelo Mensalão, recentemente. Anos de luta, e sofrimento foram manchados por suspeitas de corrupção, tão logo chegaram ao poder. Seus principais ícones desmoralizados. Foi uma perda imensa para um ideário e uma imagem construídos por longos anos. Até hoje não houve a reparação dessa perda estrutural. Foi necessário que o presidente Lula conduzisse essa situação para baixo do tapete da ética e da transparência. Figuras tradicionais da luta de esquerda esconderam-se para proteger seus nomes. Outros seguiram pedindo indenizações ao Estado, mesmo assim. Mas é preciso entender que há outra vertente petista. A sindical. Sim, foi nesse meio que surgiu Luís Inácio da Silva. Nos longos discursos no ABC paulista para metalúrgicos ávidos por um redentor. Era melhor ter um movimento assim que a luta armada. Movimento que também se destrói com a suspeita de corrupção envolvendo Palocci. Se Lula não salvar o PT mais uma vez ele pode ruir seu último pilar.
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