
Certa vez, eu caminhava por New York. Gosto de andar ali pelo riverside, no east side. Entre as ruas 80 e 82 o ambiente é bem residencial. Ou pelo menos me pareceu ser. Alguns dinings de noite e bons locais de breakfast de manhã completavam os atributos daquele lugar. Bom de ficar. Eu estava no apartamento do Darren, um produtor musical, segundo ele. Foi assim: ele saiu de seu apartamento e me alugou por uma semana. Bom negócio para ele e bom negócio para mim. Então fiz o que sempre gosto em New York City. Andar por suas ruas, ver sua gente como um mosaico móvel, sua lojas variadas, seus edifícios em direção ao céu e os anúncios luminosos quando a madrugada não dorme.
Corria o ano de 2001 e a cidade parecia imponente, bufando pelas suas narinas o calor do metrô, como no filme Taxi Driver. Eu tinha vários compromissos no Lincoln Center. Uma semana de jazz de altíssima qualidade. Essa paixão pela música vem do fato que cresci em uma casa musical. Não que houvesse músicos, mas discos. E, então, em plena New York, eu podia voltar no tempo e lembrar lá de casa. Uma dessas noites fomos, eu e Fábio, meu sobrinho, lá no The Bottom Line. Fica lá no Village e é um marco musical, pois foi onde muitos começaram ou se apresentaram em início de carreira. Bob Dylan, Neil Young e tantos outros. Stanley Jordan era a estrela da noite. Pegamos um bom lugar e quando ele começou mandou uma seqüência de rock clássico de incrível beleza e habilidade. Estava programada uma noite de jazz. Mas, quem éramos nós para discordar de Stanley. Ele, de repente, decidiu tocar rock e nós apenas somos testemunhas de uma noite brilhante.
Naquela semana de meu aniversário jantamos com amigos (com direito a champanhe Cristal e tudo), comemos tiramissu de sobremesa e depois ainda vi um dvd de Turandot, de Puccini, em uma cobertura com vista para as imponentes Twin Towers, as torres gêmeas. Fábio era casado com Lynnete e nos divertimos bastante aqueles dias. Andei por sebos de livros raros, curti muito o Central Park e subi as Twin Towers. Mais tarde saberia que Philipe, o equilibrista francês, atravessou de uma torre a outra, caminhando sobre um fio de arame, quando ainda nem havia sido aberto ao público o acesso ao seu topo. Olhei a cidade lá embaixo, o skyline ao longe e a Estátua da Liberdade. Estar ali em cima me fazia sentir-se dono da cidade. Fui ali me despedir dela, pois viajaria no outro dia.
Assim, retornei ao Brasil. Menos de um mês depois, as torres deixariam de existir. De tudo, ficou apenas a lembrança de uma despedida recente.
No comments:
Post a Comment