Wednesday, April 14, 2010

Corda bamba


Lendo artigos me deparei com a declaração de uma menininha negra de apenas 10 anos de idade, filha de Obama, presidente norte-americano. Ela dizia que quer estudar em Yale, uma das mais tradicionais e conceituadas universidades daquele país. Em sua tenra idade demonstrou convicção. Quem conhece a cultura norte-americana provavelmente não se surpreendeu com essa declaração infantil. Instituições como Yale, Harvard e outras dão muito orgulho àquele povo do norte da América. Também, sabe do enorme desafio que aquela criança terá pela frente, em razão do nível de dificuldade financeira e acadêmica que terá que superar. Quando os filhos nascem muitos pais iniciam uma conta poupança que possa, no futuro, financiar seus estudos universitários. Sim, faculdades e universidades são pagas e é necessário também pagar por moradia e alimentação. Tuition, housing e meal plan.
As opções para quem não tem dinheiro suficiente se realizam em forma de crédito educativo – que inclui não só o necessário para pagar a escola, mas também para viver só para estudar – bolsas de estudo concedidas por egressos de sucesso ou mesmo instituições bem sucedidas. É possível, portanto, estudar sem pagar em Instituições como Harvard e Yale se o candidato passar em um exame para ser bolsista integral. Estudam muito, fazem cursos preparatórios e vão à luta. O próprio Obama trabalhou em lanchonetes fast-food e pagou financiamento estudantil por quatro anos depois de formado. A Universidade de Marshall - em Huntington, WV – recebe substanciais doações de um rico senador há vários anos. Além do dinheiro próprio o senador capta recursos para aquela instituição de ensino, valorizando a terra e as pessoas que o elegeram.
Filhos vêem os pais conversando sobre essa dificuldade, como vence-la e a importância de supera-la. Depois, crescem e optam por universidades públicas ou particulares. Todas, com custos. Não relato esses fatos e observações próprias com o complexo de vira-latas citado por Nelson Rodrigues. Eles têm inúmeros defeitos e não é uma questão de sentir inferior, mas de perceber que podemos ser melhores do que somos hoje. O que pensam nossos filhos aos dez anos? O que pretendem ser, em sua imensa maioria? Há os que defendem a idéia de infância prolongada até os 15 ou 16 anos, quando as “crianças” deverão tomar suas responsabilidades a sério. Outros pensam que desde cedo devem saber de suas responsabilidades e que conciliem o presente com o futuro.
Infelizmente, na maioria dos casos, o que temos são crianças sem exemplos de futuro. Políticos, empresários, autoridades públicas, trombadinhas, assaltantes, traficantes, pedófilos, faculdades, lojas, bancos, bancas de camelô e vendedores ambulantes são horizontes visuais de uma mesma dimensão. Muitas vezes são exemplos de que o “negócio” é se dar bem no menor espaço de tempo possível.
Jornais trazem um governador saindo da prisão; um assassino “liberado” pela justiça por “bom comportamento” admitir ter matado seis crianças; desembargadores e juízes serem punidos brandamente; fichas-sujas serem absolvidos e o nosso presidente desafiando a própria Justiça. Cat Stevens perguntou certa vez: “Where do the children play?(onde brincam as crianças?)”. Em nosso adorado país, na corda bamba que liga o presente ao futuro.

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