Wednesday, March 31, 2010

Silógico


Os leitores de meus artigos no site da Transparência têm me perguntado por que ainda não comentei nada sobre Renato Casagrande, já que revelei minhas percepções sobre entrevistas e posicionamentos de Ricardo e Luiz Paulo. Isso me deixou intrigado, pois nem eu mesmo havia percebido isso. Não sei se por ter uma afinidade maior com Ferraço e Velloso, o fato é que não teci comentários sob a perspectiva das manifestações públicas do Senador do PSB. Na verdade, em meu entendimento, Casagrande se apresenta como um político mais “low profile”, com a fidalguia de um parlamento inglês. Raras vezes o vi envolvido em temas polêmicos e quando sim, de forma recatada e elegante. É o que se pode chamar de um político de instâncias institucionais, penso eu. Uma trajetória de sucesso, sem máculas. Posso dizer que é bastante silógico.

Apesar de ele não me conhecer, pelo menos não me cumprimenta quando me vê, eu o conheci quando atuei no Palácio Anchieta como Chefe de Gabinete de um Secretário de Estado, e ele era Deputado Estadual. Nosso elo de interlocução era o Paulo Brusque, um seu “protegé” que sempre fiel e competentemente o acompanhava. Creio que até hoje. Desde aquela época, pouco mais de uma década atrás, sua carreira política tem se revestido das formas concretas da retidão de caráter e da ponderação em suas opiniões. Assim, por exemplo, se expressou em relação à questão da renda do petróleo e, principalmente, em relação à sucessão de Hartung. O que me ocorre é que isso às vezes pode demonstrar - não na questão da retidão de comportamento público, mas na ponderação excessiva – uma conduta cautelosa demais, pouco ousada e desafiadora. Passa a impressão, algumas vezes, que sempre se espera um pouco mais dele, já que reúne condições para assim proceder. Haja vista o caso da aliança ou não com o PSDB, ou com o conjunto de partidos amorfos da candidatura de Ferraço.

Não posso afirmar com certeza, mas em alguns momentos penso que ele quer ser uma reprodução de Hartung. Como as cópias de Michelangelo cuja exposição o Governo do Estado viabilizou agora. Mexe com os nervos dos atletas políticos ao deixar para os últimos minutos a jogada decisiva, que tanto pode lhe trazer a vitória ou a derrota. Truman Capote diria que tem sangue frio. Armando Nogueira talvez sugerisse que ele é o dono do quadragésimo quinto minuto do jogo. Tem muito que aprender, pois, nesse aspecto, Paulo ainda é o dono da bola e o jogo pode acabar na prorrogação. Enfim, não sei bem o que dizer sobre Renato. Sua entrevista em A GAZETA foi pouco esclarecedora. Um mero protocolo parlamentar.

Posso afirmar, entretanto, que seria muito bom para a democracia uma coligação entre o PSB e o PSDB aqui no Espírito Santo. Pois, parafraseando novamente o saudoso botafoguense Armando Nogueira, ambos sabem “criticar sem agredir e elogiar sem bajular”. Para um Estado em que até jornalistas e articulistas experientes confundem o uso dessas variáveis, seria um enorme avanço no campo político. Mas, Renato continua silógico demais. Bom para ele, nem tanto para nós, o povo, gênese da democracia.

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