Monday, March 29, 2010

Horowitz e Menuhin


A entrevista de Luiz Paulo no jornal A GAZETA permite entender que seu adversário não é Paulo Hartung e que além de vencer Ricardo Ferraço seu desafio é tangenciar os limites entre Paulo e os Max. Com sua habilidade e didática inatas é bem possível que ele consiga produzir uma orquestração política que tanto ouça uma peça sinfônica – e seus movimentos ora alegro ora andante – composta por Paulo, quanto o blues uníssono e lamurioso dos Max. Não que Ricardo seja um adversário fácil de ser vencido, mas porque seu projeto político parece ser um mero mosaico de conveniências. Enquanto isso, Luiz Paulo caminha para a construção gerencial de um mosaico de inconveniências. Políticos e seguidores que não se conformam com a pasteurização do contexto político e propõem um modelo mais dialético, mais Socrático de governança pública. O exemplo de Obama e a reforma de saúde nos EUA mostram que divergências bem conduzidas e legítimas podem caminhar para uma convergência. Não necessariamente para uma unanimidade impositiva.

O desafio de Luiz Paulo parece ser o de maestro. Compor e executar partituras que tenham por sonoridade as políticas públicas. Seduzido pela obra de Jobim, sabe que será necessário usar acordes dissonantes e notas vaidosas, que gostam de ter destaque prolongado. O primeiro violino fluindo ao compasso de um piano marcante. Menuhin e Horowitz. Os músicos que precisa ele conhece muito bem. Os quadros da melhor administração pública dos últimos anos têm sua presença direta ou indireta. Não há como negar que muitos secretários, gestores e funcionários aprenderam com ele ou junto com ele. Quando voltou do Rio de Janeiro, nos anos 1990, ele trouxe uma notável e estratégica reformulação da gestão pública. Eu tive o prazer de participar desse momento e aprender muito.

Já os “divos”, Paulo e Max Filho, são difíceis de satisfazer, apesar de conhecê-los. Paulo, por ser pouco previsível. Sempre tem uma carta na manga. E a usa. Max, por ser muito previsível ao criticar a carta na manga. E não poder usá-la, ele próprio. Os Max, pai e filho, são políticos de forte densidade eleitoral, legalistas e barulhentos. Se conseguirem dominar um pouco melhor essa verve e essa obsessão por derrotar Hartung não só serão bem eleitos como contribuirão muito para a dialética do poder. Tingir com cores mais sociais essa política industrial vigente, que concede esmolas. Luiz Paulo deixou claro que seu adversário é Ricardo e criticou firmemente seu projeto de poder e política, considerando-o transgênico. E Ricardo é um adversário qualificado e que aprende rápido.

Para vencer, será fundamental que Luiz Paulo ensine ou esclareça aos seus correligionários quem é o verdadeiro adversário desse embate eleitoral. Além disso, mostrar aos eleitores que o futuro do Espírito Santo fica muito frágil se depender de uma aliança entre PMDB e PT da maneira que está sendo feita: loteamento de candidaturas. As pessoas são encaixadas por conveniência partidária, pessoal e política. Com todo respeito aos seus ícones, uma decepção. E, na entrevista, o pré-candidato tucano mostrou isso muito bem.

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