Wednesday, March 24, 2010

É Freud!


A entrevista do Vice-Governador Ricardo Ferraço, pré-candidato a Governador nas próximas eleições, fez lembrar da minha dissertação de mestrado, na Universidade Federal de Minas gerais. Frases como “Não vou me pendurar em Hartung” e “O candidato sou eu e não o atual Governador” fizeram com que eu lembrasse também de Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso, seu opositor. O primeiro tratou do princípio da identidade – o ser uno, indivisível, finito - e o segundo desenvolveu princípios da dialética, ensejando o caráter mutável da realidade. Muitas vezes, ao longo da entrevista, Ricardo pareceu tentar se descolar da identidade de Hartung e criar a sua própria. Algo bem mais difícil que manter-se à identidade de Hartung e criar a sua própria imagem, enquanto reflexo dele. Não sei se essa fórmula não tem dado tão certo e assim Ricardo, depois da nova estratégia de Hartung, busca apoio em Heráclito quando este disse “Tu não podes descer o mesmo rio duas vezes, porque novas águas correm sempre sobre ti”.

Dizer que o apoio do Governador é fundamental, mas insuficiente é uma tentativa de se valorizar em termos de identidade no sentido de se posicionar como protagonista e não apenas como coadjuvante que aceitaria papéis secundários para se manter em Hollywood. Aliás, essa é uma metáfora interessante, pois nunca se viu tanto ator, tanto diretor de cena e enredo como agora no palco da política capixaba. As encenações têm o toque sofisticado de um Antonioni, com direito a finais surpreendentes. Daqueles em que a platéia sai do cinema ou do teatro direto para um analista. A entrevista de Ricardo está muito boa e reveladora. Permite entender que foi o principal mentor da decisão de o atual Governador optar por permanecer no cargo: “Se você não deseja ser candidato (Governador) acho que devemos trabalhar para que você conclua o seu mandato”.

Além disso, cita Eclesiastes, algo que Paulo raramente faz e quem sabe nunca fez em relação às escrituras sagradas. Já seriam essas novas águas passando sobre o mesmo rio? As águas evangélicas? É possível. Steidl &e Emery (1997) sugerem procedimentos para obter consistência e expressar uma identidade essencial além de obter um bom alinhamento entre identidade e imagem. Isso é algo desafiador e interessante para um consultor quando se trabalha esses atributos em um mesmo ser. Por exemplo, alinhar a identidade de Ferraço com sua própria imagem percebida. Mas, nesse caso, a questão parece ser alinhar a identidade de Ricardo com a imagem de Paulo. E o atual Governador pouco contribuiu para isso em sua mais recente (com ele nunca se recomenda dizer que foi a última) decisão. Para muitos a situação imposta é clara: a imagem desejada é a do Paulo e Ferraço tem que alinhar componentes de sua identidade enquanto mantém a imagem de seu mentor.

Mudar essa estratégia, seja pela regular alavancagem de sua candidatura apesar de ter o Governo nas mãos e o pacto da maior densidade eleitoral do Estado (Grande Vitória), seja pela má fase que o Estado atravessa - o STJ jogou mais uma pá de cal na cova das masmorras políticas; seja pelos eventos relacionados à atividade petrolífera; seja pela declaração de epidemia de dengue; seja pela insegurança entre aliados por conveniência que Paulo despertou, parece ser algo revelado nas entrelinhas de sua entrevista. Mas ai saímos de Parmênides e Heráclito e passamos para Freud quando trata das defesas utilizadas pelas pessoas, notadamente a sublimação e a idealização. Freud explica?

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