
Há momentos em que eu me assusto com o que escrevo. Gostaria de me dedicar mais às poesias, ao romance que estou escrevendo, ao livro sobre a História dos Partners no Espírito Santo, mas me pego escrevendo artigos que me compelem à reflexão. Tenho medo de ser desrespeitoso com alguém ou de interpretar fatos de forma equivocada. Mas, lembro que só deve escrever palavras aquele que tem coragem de dizê-las. E sigo escrevente quase que diário. Eu fui assistir ao filme Ilha do Medo (Shutter Island), do mestre Scorcese, e lembrei do que está acontecendo com a política em um certo país. A lobotomização. Políticos criativos, visionários, contestadores, alternativos e propositores têm sido alijados ou “amansados” pelo poder constituído.
A lobotomia inicia-se com Golz em 1890, com cães; Buckhardt, Moniz, Freeman e Wattz têm seu auge nos anos 1930 em seres humanos. Inclusive, na Escola de Medicina de São Paulo algumas cirurgias foram realizadas, com pouco êxito. De um método mais complexo, com leucótomo, até um método mais fácil, com um simples quebrador de gelo pontiagudo e um pequeno martelo, mais de 18.000 cirurgias foram feitas nos Estados Unidos. Moniz, médico português, realizava seus trabalhos na Europa e até ganhou um Nobel em 1949. Só no final dos anos 1950, com o advento de novas drogas e movimentos sociais éticos essa “psicocirurgia” perdeu sua significância. O cinema, em uma brilhante interpretação de Jessica Lange, mostrou a vida de Frances Farmer, insinuando que ela teria sido lobotomizada. Um filme imperdível, apesar de inverossímil nesse quesito. Nessa foto, em outro filme, ela aparece com Tyrone Power, em 1942.
Na política atual do país que comento o que se vê é um retrocesso aos anos 30, 40 e 50, quando tudo era justificado pelo anti-comunismo. Agora, o que determina a justificativa é a anti-unanimidade. Ideologias contraditórias são desarticuladas; os políticos permitem entender que viraram, em sua grande maioria, marionetes de regentes poderosos, alavancados por sua popularidade. Não é culpa do regentes. Eles foram eleitos democraticamente e fazem o seu papel, ainda que questionável, com competência. Se concorressem ao Oscar da categoria, pelo conjunto da obra, ganhariam a estatueta. A questão está na acomodação, no jogo de interesses políticos. No aceite de seus subjugados que querem apenas se locupletar. A democracia desmoronou. Foi lobotomizada. Atores políticos dizem quem vão ser os próximos governadores, os senadores, os prefeitos. Quem entra, quem sai. E, vem a mesma dúvida do personagem de Di Caprio: viver como monstro ou morrer como pessoa do bem. Esse é um texto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
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