
Quando criança, lembro bem que meu pai gostava de rádios. Teve vários. Dois eram como se fossem gêmeos. Mesma caixa alta, curvada na frente e com um revestimento entrelaçado que deixava o som passar. Acho que a marca era Invictus, mas lembro bem que eram importados e tinham grandes e frágeis válvulas que os faziam funcionarem. Ali se propagaram a morte de Kennedy, do Papa João XXIII, os gols de Pelé, os dribles de Garrincha e os tiros da ditadura. Era muito difícil censurar os rádios porque havia a possibilidade – nos aparelhos possantes – de se ouvir rádios estrangeiras e de outros Estados. Antes, eu nem era nascido, no auge da era do rádio as famílias ouviam novela, imaginando cenários inexistentes.
Nas tardes de sábado os aparelhos se revezavam na veiculação do tradicional programa da Rádio Difusora de Cariacica, “Tarde Dançante”. Lembro, com a névoa da tenra idade, de meus irmãos mais velhos e meu pai ouvindo os acordes de Cavallaro em “melodia imortal”, de Ray Anthony com seu “Dream Dancing”, a voz de Sinatra e o som de outras orquestras. Claro, lembro também que havia um móvel largo, com portinhas que se abriam mostrando um prato girador chamado eletrola, própria para a reprodução de discos.
Mas o que eu gosto mesmo de lembrar é de uma caneta. A imponente Parker 51. Elegante, infalível, preciosa e desejada. Era, para mim, um objeto de contemplação. As autoridades gostavam de usá-la, pois atestava seu status social. Se fosse um carro seria um cadillac conversível rabo de peixe; se fosse uma moto seria uma Harley e se fosse uma bicicleta, seria uma Phillips. Aquela bicicleta inglesa bem alta, aro 28, selim desconfortável e forte que nem um trator. Eu a olhava de relance, nunca escreveria com ela, apesar de desejá-la. Minha geração é da Bic, a inquebrantável caneta em forma de canudinho. Alguns hão de dizer que a Mont Blanc é a Parker 51 de hoje. Que nada. A Parker é como Gilda, nunca haverá nada igual a ela.
Essa minha lembrança de infância veio de alguns comentários que ouvi nesse verão ensolarado. Diziam que os resultados das próximas eleições para o Governo do Estado dependem do movimento político de Hartung. Há uma percepção - e foi isso que me sugeriram - que a força do governador está na caneta. No momento em que ele sair da função de governador perderia força e pessoas e partidos hoje insatisfeitos se movimentarão em direção contrária à sua. Cheguei, inclusive, a ouvir isso de pessoas bem influentes e experientes, mas não tenho a competência da jornalista Andréia Lopes para fazer essa avaliação de poder e política. Apenas ouvi e lembrei do passado. Em tese, haveria prefeitos e vereadores, além de deputados que, sem o poder de fogo da mão de Paulo, se movimentariam em torno do tabuleiro de xadrez político, expondo seus flagelos e suas expectativas.
O Governador tem inaugurado estradas dirigindo carros antigos, acho que um Bel Air 54. Será que, na percepção das pessoas, a caneta que usa oficialmente é uma Parker 51, única e naturalmente intimidadora? E, em sua ausência espontânea, ainda na percepção das pessoas, será que a tinta virá de uma Bic dessas de papelaria de esquina. Só o tempo dirá.
Nas tardes de sábado os aparelhos se revezavam na veiculação do tradicional programa da Rádio Difusora de Cariacica, “Tarde Dançante”. Lembro, com a névoa da tenra idade, de meus irmãos mais velhos e meu pai ouvindo os acordes de Cavallaro em “melodia imortal”, de Ray Anthony com seu “Dream Dancing”, a voz de Sinatra e o som de outras orquestras. Claro, lembro também que havia um móvel largo, com portinhas que se abriam mostrando um prato girador chamado eletrola, própria para a reprodução de discos.
Mas o que eu gosto mesmo de lembrar é de uma caneta. A imponente Parker 51. Elegante, infalível, preciosa e desejada. Era, para mim, um objeto de contemplação. As autoridades gostavam de usá-la, pois atestava seu status social. Se fosse um carro seria um cadillac conversível rabo de peixe; se fosse uma moto seria uma Harley e se fosse uma bicicleta, seria uma Phillips. Aquela bicicleta inglesa bem alta, aro 28, selim desconfortável e forte que nem um trator. Eu a olhava de relance, nunca escreveria com ela, apesar de desejá-la. Minha geração é da Bic, a inquebrantável caneta em forma de canudinho. Alguns hão de dizer que a Mont Blanc é a Parker 51 de hoje. Que nada. A Parker é como Gilda, nunca haverá nada igual a ela.
Essa minha lembrança de infância veio de alguns comentários que ouvi nesse verão ensolarado. Diziam que os resultados das próximas eleições para o Governo do Estado dependem do movimento político de Hartung. Há uma percepção - e foi isso que me sugeriram - que a força do governador está na caneta. No momento em que ele sair da função de governador perderia força e pessoas e partidos hoje insatisfeitos se movimentarão em direção contrária à sua. Cheguei, inclusive, a ouvir isso de pessoas bem influentes e experientes, mas não tenho a competência da jornalista Andréia Lopes para fazer essa avaliação de poder e política. Apenas ouvi e lembrei do passado. Em tese, haveria prefeitos e vereadores, além de deputados que, sem o poder de fogo da mão de Paulo, se movimentariam em torno do tabuleiro de xadrez político, expondo seus flagelos e suas expectativas.
O Governador tem inaugurado estradas dirigindo carros antigos, acho que um Bel Air 54. Será que, na percepção das pessoas, a caneta que usa oficialmente é uma Parker 51, única e naturalmente intimidadora? E, em sua ausência espontânea, ainda na percepção das pessoas, será que a tinta virá de uma Bic dessas de papelaria de esquina. Só o tempo dirá.
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