Friday, January 29, 2010

Luiz, João e Ali


Recentemente a foto de um abraço entre Luiz Paulo e João Coser deixou alguns políticos e seus cupinchas em polvorosa. Alguns até recriminaram o Deputado Federal por ter sido tão cordial assim. Esqueceram a diferença entre adversário e inimigo. Não vejo nada em Coser - uma pessoa educada, leal e vitoriosa – que leve Velozzo a te-lo como inimigo. Com certeza, adversários no campo político-ideológico, tão somente. Mas a cobrança talvez venha de quem vê a política como um ringue, uma luta de boxe. Mas, naquele quadrado predomina a ética dos adversários e não a dos inimigos. Houve um campeão, talvez o mais perfeito lutador de boxe – Muhhamad Ali, antes Cassius Clay – que demonstrava isso. Antes da luta, duas feras trocando desafios verbais. Fora da luta ou terminada a luta, dois atletas.
Ali só deixou sua ira extravasar duas vezes, em minha opinião. Uma, quando, antes do embate, o seu desafiador ficou provocando-o ao chama-lo pelo seu nome original, Cassius Clay, quando ele já o havia mudado para Ali. Na frente das câmeras e dos fotógrafos, o desafiador ficava ironizando o notável boxeador. Iniciada a luta, Ali logo se impôs, como sempre, e quando tudo indicava para terminar em dois ou três assaltos apenas, eis que Ali esmurrava o opositor sem derrubá-lo, machucando-o bem e perguntando alto: “What´s my name?”, “What´s my name?” Incrédulo, o desafiante apanhou muito até o 12 assalto. Nunca mais, pelo que se sabe, errou o nome do campeão e ainda ficou seu amigo.
Depois, em outra ocasião, já um famoso campeão mundial, foi convocado para a guerra do Vietnã. Ele se negou a ir, manteve sua decisão e foi punido. Perdeu o título de campeão duramente conseguido e foi obrigado a se afastar dos ringues por três anos. Mas, não foi para o Vietnã. Seu argumento: “I have no quarrel with the vietcongs!”. Ou seja, “Eu não tenho nenhuma razão para agredir um vietcong!”. Depois, voltou a lutar e a ganhar e fez crescer o movimento social pela liberdade de escolha. Ali, soube muito bem o que era um adversário que tinha que vencer na luta de boxe e o que era um ser humano que não lhe havia feito nada que o levasse a querer agredi-lo.
Luiz Paulo, Ricardo Ferraço, João Coser, Renato Casagrande, Paulo Hartung e outros políticos não têm razão para serem inimigos intransigentes. O que devem ser é éticos e competentes adversários políticos para enaltecer a arte política e promover a liberdade de escolha pelo voto popular. A luta está se iniciando, todos procuram ganhar por knock out ou por pontos. Mas, não acredito, dada a história de vida e a inteligência política dos combatentes, que transformem o ringue em uma jaula com espíritos animalescos se agredindo insanamente. Ainda que o primeiro descontrole de Ali, aqui relatado, possa ocorrer. Portanto, é só não exagerar na provocação.

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