
Os cinéfilos haverão de saber da importância de “Os Canhões de Navarone” para a cinematografia Esse filme da década de 60 ganhou um Oscar por seus efeitos especiais – hoje seriam considerados como meras animações caseiras -, mas retrata em seu enredo a importância do posicionamento estratégico na arte de guerrear. Peck e Niven personificam soldados que tem por missão anular os poderosos canhões de longo alcance encravados nos penhascos banhados pelo mar Egeu. Desse modo, a esquadra britânica poderia sair antes de ser mortalmente atacada pela força aérea alemã. Mas a passagem é estreita e lá, no alto, estariam os canhões.
Assim parece ser a corrida presidencial. Por mais que a oposição – leia-se PSDB – tente avançar, a passagem em direção ao Planalto está muito bem guardada por Lula, seu atual ocupante. Seus canhões têm o poder de fogo de mais de 81% de popularidade. E sua candidata tem uma pesada mão de ferro para mostrar ao PT que ela veio para vencer. Não vai ceder fácil. A crise fez os Estados e Municípios dependerem mais ainda do Governo Federal e tanto ela quanto Lula parece saber usar bem essa munição. Serra tem sido prudente e talvez até de forma excessiva. Não quer forçar a passagem por Navarone, sem primeiro reduzir ou anular o poder desses canhões.
Mas, como fazer isso? Convencer Aécio a ser seu vice é uma opção. Partir para o ataque buscando atingir os pontos fracos de seu adversário? Essa não parece ser uma opção, pois até o momento assim não tem assim procedido ou tem sido muito comedido em suas críticas. Afinal, enfrentar tamanha popularidade em um ano de copa do mundo não é algo fácil. E o sistema político brasileiro permite arranjos e alianças que deixariam Cavendish embasbacado. E quanto mais o tempo passa, mais aumenta a imagem positiva de Lula. Apesar de, paradoxalmente, ela ficar cada vez mais frágil. Talvez seja essa a estratégia de Serra. Tentar mostrar, com o apoio do tempo, que nosso Presidente não cumprirá promessas básicas de campanha.
O PAC, com suas obras tão divulgadas não saiu do papel. E quando saiu, há suspeita de corrupção e estão paralisadas. Como nosso aeroporto. O Governo não saiu ileso da crise contemporânea, arrombando os cofres públicos e ampliando o déficit fiscal. Concretamente, não se percebe avanço na educação, na saúde pública e na segurança. Essa última então, é um calcanhar de Aquiles, com tendinite irreversível. É impressionante como pioraram as condições de segurança. No Espírito Santo, por exemplo, em plena luz do dia, na praia, há tiroteios e morte. Nas ruas, seqüestros relâmpagos e assaltos a estabelecimentos comerciais. Como Dédalo, o pai de Icaro, nosso presidente parece ter construído asas de cera. Voa, mas não pode se expor demais ao sol. Será Serra essa luz? Aécio? Mantendo-se esse tempo nublado, o vôo será longo e vencedor.
O interessante é que o nosso Presidente, involuntariamente contribuiu para o desmoronamento de seu partido, o PT, ao “aparelhar” a máquina pública na percepção de muitos. Hoje o partido sofre de osteoporose em sua coluna vertebral. Ícones sagrados de sua militância são suspeitos de corrupção e os que ascenderam estão promovendo alianças e desavenças internas que agridem o seu âmago, sua linha ideológica. Em política externa, colecionamos uma série de questões controversas como Zelaya, Chaves e Morales. Lula transforma-se em um habilidoso Houdini tropical e tudo isso passa a ser ilusório. Ele é inteligente e competitivo, mas é um ser humano. Se as coisas não começarem a efetivamente a acontecer a tempo, poderá ficar tenso, como o filme antigo. Ou ter hipertensão e cair, como Ícaro.
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