Thursday, December 10, 2009

Jornais e imagens


A leitura dos jornais locais nos permite ir de notícias bem próximas até as mais distantes, indo de nossas cidades capixabas aos destaques de nosso imenso país. Otimistas e pessimistas nutrem suas expectativas. Pragmáticos desfazem seus sonhos e estrategistas desenham seu futuro. Imbuídos de uma intenção informativa, os jornalistas se empenham em retratar a vida brasileira com fotografias coloridas e retratos em preto e branco. As imagens coloridas dão o tom das promessas de um futuro redentor e as imagens acinzentadas revelam, como um lambe-lambe de pracinha, a verdade nua e crua. O Brasil continua sendo um berço esplendido. Aqui, idéias e desejos extasiantes se aboletam como uma gênese de um amanhã fulgurante em forma de florão da América.

Os otimistas sonham com o Pré-Sal, as olimpíadas, a copa do mundo, o trem bala, o etanol e outras perspectivas profícuas. Adoram ler e reler as promessas anunciadas. Antevêem o país com uma fé inquebrantável, ao estilo Kubitscheck. Iludem o presente, desprezam o passado e aguardam com seus sorrisos infláveis a chegada desse novo tempo. O tempo, segundo eles, senhor de todos os tempos. Trazem atrás de si, correntes de apaixonados por essa visão, seguidores que agem como as ovelhas conduzidas por um pastor.

Os pessimistas desdenham o futuro e relembram o passado como argumento de que o presente é um exemplo do que acontecerá. São céticos. Lêem as notícias e tecem longos comentários sobre suas conseqüências, como um filósofo do apocalipse. Para embasamento de seus temas buscam na História os exemplos do que prevêem, como se ela fosse se repetir. Antes que as coisas melhorem, tenderão a piorar. Desconfiam dos discursos artificiais dos políticos oportunistas, para os quais o caos é uma fonte de promessas e votos. De nossa terra garrida, nossos campos terão mais espinhos que flores.

Os pragmáticos se locupletam. Não estão nem ai para o passado ou para o presente. Querem se dar bem no presente. Afinal, segundo eles, vive-se no presente e não em outras dimensões. Fazem qualquer negócio, desde que isso lhes proporcione um presente confortável. Adoram panetones, sentenças judiciais de amigos, mensalões, perdões institucionais, penas alternativas, recursos jurídicos, liminares e amizades políticas. Não se intimidam com câmeras filmadoras, gravações e atos impróprios. Vestem cuecas largas, meias altas e bolsas espaçosas. Adoram Brasília e suas autoridades. Percebem que, se algo der errado, só no futuro distante haverá o tal trânsito em julgado, se houver. Por precaução, fazem curso superior, pois não gostam de se misturar com amadores, se der cadeia.

Os estrategistas, por sua vez, fundam organizações não governamentais, associações e movimentos em prol da preservação da História, da inconformidade com o presente indesejado e a construção de um futuro necessário. Quando políticos com mandato, assumem as bandeiras da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Também, do lábaro que ostentamos estrelado. Formulam, votam e lutam por aprovar leis e projetos de interesse público. Os estrategistas sabem que o que se faz hoje desenha o futuro. E vão à luta por um futuro melhor. Como fizeram os estudantes e cidadãos em geral que protestavam em Brasília, ontem, contra atos amorais do governador do Estado. Receberam “bombas de feito moral” e balas de borracha, da própria polícia militar. Triste filme já revelado, em preto e branco na década de 60.
Na imagem colorida, nosso “líder” apresenta ao mundo sua candidata à presidência da República, no “road show” de Copenhagem, de olho no futuro. Enquanto isso, a União se desune em termos de Pré-Sal; Governadores e políticos se envolvem em desonestidades; as águas de dezembro ainda, já inundam São Paulo, o Rio e o Espírito Santo; o déficit fiscal aumenta; o Senado quer revogar a lei de responsabilidade fiscal e os aposentados consignados recebem apenas 2,5 % de reajuste em seus salários.

No jogo de imagens, assim é se assim lhe parece.

No comments: