Tuesday, December 08, 2009

Paradigmas Quebrados



Sou botafoguense de coração e alma, que nem o Rafael Simões, mas fiquei feliz com título de campeão do Flamengo. É um time que lembra muito o Brasil, o brasileiro. Reúne características muito próprias do cotidiano nacional e parece retratar a luta incessante de superá-lo. Está presente tanto na camisa do trabalhador de chão de fábrica quanto na bandeirinha em cima da mesa de um importante diretor da mesma empresa. Quebra desigualdades e hierarquias. Nas praias o garotão marombado compra picolés ou cervejinhas de um desmarombado vendedor, ambos com a mesma camisa rubro-negra. E assim seguem todos comemorando expansivamente suas vitórias.

Esse título, por exemplo, quebrou alguns paradigmas interessantes. Negros também podem ser excelentes técnicos. E negros humildes, sem ternos luxuosos e gravatas Hermés. Têm a sabedoria de quem já jogou muita bola e conhecem o ambiente do futebol dentro de campo como poucos. O futebol é simples, muitas vezes inato, intuitivo mesmo. As jogadas não são processos, métodos lógicos e sistematizados. A grande maioria dos técnicos vê o futebol como algo complexo, esquemático. Andrade foi além do técnico. Mostrou-se “coach”. Entendeu seus jogadores. Seu maior trunfo, de carreira internacional, gosta de favela. Fica feliz assim e, feliz, faz gols. A crise atual mostra que nos mercados isso também é possível e necessário.

Um outro paradigma foi quebrado, merecidamente. Revelou-se que idade nem sempre atrapalha. Idade pode ser experiência, liderança, inspiração e confiança. Pet, como é chamado o sérvio, havia sido pouco aproveitado pelos times matemáticos, esquemáticos. No Flamengo, com mais liberdade, relembrou um fundamento quase esquecido: a bola deve andar mais que o jogador. Lembrei de Gérson, cuja condição física não era das melhores em razão do cigarro, mas que contribuiu decisivamente para o nosso tri-campeonato. Aliás, em termos de fundamentos devem ser obrigatórias nas escolhinhas de futebol e nos treinamentos profissionais as imagens do sérvio com seu gol olímpico, seus passes e seus dribles. Que sirva de lição às empresas que descartam seus funcionários pela idade.

Alguns jogadores musculosos, na verdade brigam com a bola. O campo parece um tatame. A gorduchinha não emagrece de boa que é. Coitada, de redondinha sai oval, de tanto que a maltratam. Em Curitiba, não são só jogadores que brigam com a bola. Nem é só ela que apanha: jogadores, policiais e outros convivas também. No maracanã, quem levou uma tapa de luvas foi a soberba dos times paulistas e mineiros. Domingo torci por dois times. O meu glorioso Botafogo e o Flamengo quebrador de paradigmas.

Que esse campeonato sirva de exemplo para todos os brasileiros, na ética, na política e na gestão pública. Muitos são os paradigmas a serem quebrados.

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