Saturday, December 19, 2009

Che, o retorno




Corre solto o boato que Che voltou, ressuscitou. Não sei se é efeito do subjetivo e introspectivo filme do Soderbergh ou saudade mesmo que o querrilheiro sentiu. O fato é que muitos juram que o viram, o encontraram. Parece coisa de disco voador, objeto não identificado. Já surgiram, segundo alguns mais entusiasmados, filmes e fotos em que sua figura aparece de forma subliminar, esvoaçante. Como um fantasma. O departamento de defesa dos Estados Unidos já emitiu sinal de alerta máximo, com receio de o argentino-cubano suceder Fidel. O partido republicano está afirmando que Che veio para tranqüilizar o milenar comandante cubano, dizendo-lhe que pode ir desta para melhor, onde não haverá embargo. Mas, também, dizendo que precisam sentar e definir quem Guevara reencarnará para assumir o comando da nação.

De tão curioso com esses comentários, entrevistei um ex-participante do ex-Partidão, ex-aluno do Instituto Marxista-Leninista na ex-união Soviética na ex-Leningrado – tudo “ex” como se pode ver - que jura de pés juntos que conversou com Che, semana passada. Assim na lata mesmo. Sem esse negócio de copo rodando em cima da mesa. Foi linha direta mesmo. Fiquei surpreso com o que ele me disse. Para ele ficou claro que o Che anda chateado com algumas mudanças. Com o PT, por exemplo, está bem frustrado. Estudioso e ávido leitor está relendo os livros marxista-leninistas para encontrar uma explicação. Algo que nem os dois autores, seus companheiros de conversas ao fim da tarde lá onde estava antes de retornar a Terra, conseguiram lhe explicar. Engels ficou de ajudar a escrever um “Manifesto Petista”. Mas sabe como é o Engels. Filosofa demais e tem outras coisas com o que se preocupar agora, como a influencia de panetones e outras delícias na política partidária. E anda tentando decifrar a Janis Joplin, ao som de Hendrix. .

Alguém percebeu a presença de Che lá em Copenhagem. Reencarnou-se em um jornalista da Bolívia. Não fez nenhuma pergunta ou emitiu opinião porque ficou impressionado com a mudança ocorrida no “companheiro Lula”, de terno, na ribalta, oferecendo dinheiro ao capitalismo para cuidar do planeta Terra. E Lula assim fez sucesso. Ernesto, estupefato, sorriu um pouquinho, quando o Minc chamou - ato falho - a Dilma de Vanda. Che pensou: nem tudo está perdido. Hasta la vitória sempre! Isso tudo é uma farsa. Uma estratégia para dominar o mundo, já que o “aparelho” Brasil está dominado, segundo Lula. Mas o Che anda preocupado mesmo é com o Zé Dirceu. Todo aquele tempo em Cuba, tantos charutos fumados, tantas horas ao pé do ouvido de Fidel e agora virou consultor de empresas multinacionais. E excelente captador de recursos financeiros para campanha. Bem melhor que P.C. Farias.

Eu fico imaginando o que os sindicalistas vão dizer ao ilustre guerrilheiro. Aceitar que deram apoio à continuidade da política econômica neoliberal de FHC é fácil frente a engravatados em reuniões ministeriais, ou quando se é o próprio ministério. Agora, olho no olho com o comandante é mais difícil. Todos sabem muito bem como o Che tratava a traição. Melhor nem lembrar como ele tratava a corrupção. Está intrigado e já agendou com a Marina Silva para tentar entender onde estão os arautos de esquerda, ferrenhos defensores do meio ambiente. Tem um tal de Chico Mendes lá em cima – ou seria embaixo? – que afirma que andou por aqui.

O Che, segundo muitos, voltou. Reencarnou. Ora aqui ora acolá. No Espírito Santo, viu que aquela geração da UFES que tanto usou sua camiseta, em grande parte está em posições decisórias estratégicas. Isso, já há vários anos. Outro quebra-cabeça para o argentino revolucionário. Antigos opositores hoje são aliados e as questões sociais não são tão prioritárias como deveriam, em seu entendimento de justiça social. Acho melhor Che ficar lá onde está desde que morreu, ou melhor, foi assassinado. Se eu estiver com ele - algo improvável, pois tenho medo de assombração - e ele tiver dúvida sobre isso vou sugerir que ele assista a dois filmes: o sobre ele e o sobre Lula. Ele vai pensar: para que eu fui dizer: “Hay que endurecer, porem sem perder la ternura jamais”. Tem gente que deixou de endurecer e ficou suave demais. Locupletou-se, diria Machado de Assis.

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