Saturday, October 31, 2009

Rex Judeorum



Jesus Cristo é uma personalidade admirada em grande parte do mundo. As principais religiões do mundo podem ser organizadas em Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Apenas uma tem a sua presença. A maior de todas no mundo contemporâneo ensina que ele desceu dos céus e trouxe a remissão dos pecados oferecendo o seu próprio corpo para realizá-la. Crucificado, ascendeu aos braços de seu pai, segundo as escrituras sagradas, e perdoou a quem o tinha ofendido. Os pecados continuam por aí e as ofensas também. Principalmente a de uso do seu nome em vão.

Nas execuções por garrote vil na Espanha de Franco rezava-se o Pai Nosso antes. O fogo ardente da Inquisição evocava seu respeito e temor. Na época da ditadura no Brasil muitos gabinetes, cheios de arquitetos da tortura, ostentavam seus braços perfurados em forma de cruz. As cruzadas, em sua luta incessante contra os muçulmanos, desfraldavam bandeiras de sua expansão territorial e mercantil. Deus, Jesus e o argumento vão da violência e da barbárie. Um pecado não-original.

Seu significado é tão intenso que até Lennon, no auge dos Beatles, exclamou: somos mais populares que Jesus Cristo! Madonna inúmeras vezes o ironizou no palco e Roberto Carlos compõe versos exaltando-o e chamando por sua presença. Perde a mulher, vítima de doença, desconfia de sua existência, mas logo reafirma sua fé. Enfim, Jesus: um conceito, uma solução, uma fuga, um ícone, uma fé, um argumento ou mesmo uma desculpa. De muitas maneiras foi citado e reverenciado. Também, criticado.

Ninguém, porém, foi mais inconveniente ou despropositado que nosso presidente da república. O deus do jeitinho brasileiro, das alianças políticas impensáveis e improváveis, do carisma popular, achou-se o próprio Deus, Pai. Gosto de ler livros de História. Nunca encontrei nada semelhante à frase do presidente, quando afirma que Jesus faria aliança com Judas para conseguir algo. Acho que li muito pouco. Vou continuar tentando encontrar, se não vou achar que nosso presidente também é o deus da História. O cara de Hobsbawn.

É possível entender então que, segundo nosso presidente, Deus é brasileiro, Jesus é aluno de Lula e aprendeu a lei do Gérson. Como diria Caetano, o narcisismo presidencial acha feio aquilo que não é espelho!

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