Saturday, September 05, 2009

Futuro Tardio



Recentemente o historiador Sérgio Fonseca escreveu, em A Gazeta, um excelente artigo sobre a atitude das autoridades públicas em relação à mudança estrutural de uma sociedade organizada. Com elegância e propriedade abordou a questão da inauguração da nova ponte da passagem e do promissor veio negro do Pre-sal. Organizou seus argumentos com base na temporalidade entre o presente e o futuro. E deixou clara sua percepção de que estamos nos alimentando de expectativas que pouco se realizam proporcionalmente ao que auguram. Qualquer leitura básica da história brasileira permite concluir que essa percepção tem fundamento e razão de existir. Getúlio, com o petróleo é nosso; Juscelino, com o Brasil velocíssimo; Jango, com o Brasil de esquerda e sindicalizado; os Generais, com o Brasil de direita, ditatorial e algemado; e a redemocratização, com o Brasil republicano. Nada disso vingou. Não há, comparativamente, uma indústria nacional forte; a modernidade está atrasada; os sindicatos e a esquerda definharam; a ditadura virou partidária e a república ainda não se instalou devidamente. O Senado que o diga. Tudo acaba mesmo em samba. Ou pizza.
O texto do autor nos faz lembrar que viver e morar torna-se uma dissonância indesejada. Vivemos de promessas. Um país sem miseráveis e excluídos, uma nação escolarizada, econômica e socialmente forte. Também, um Espírito Santo sem excesso de crimes, organizados ou não; com trânsito seguro e de melhor fluidez; com aeroporto apropriado; com sistema aquaviário; com portos competitivos; enfim, com uma realidade tangíbilizada. Enquanto isso revivemos o “Panis et circensis” da Grécia antiga. Inaugurações de canteiro de obras, de obras incompletas, lançamentos de planos de longo prazo, comícios com promessas de campanha eleitoral, festas e eventos consecutivos em direção ao futuro, como o lançamento do PAC e do Pre-sal. E o futuro anda cada vez mais rápido e implacável.
Entretanto, tristemente, moramos no presente. É hoje que pegamos um ônibus lotado, que sentimos medo de assalto, que não temos emprego suficiente, nem estudo, nem saúde, como nos foi prometido sempre. Que empacamos no trânsito, que temos saudades do aquaviário, do sol na areia da praia, da certeza de que estaríamos no rumo da cidadania. Qual o quê, diria Chico, moramos acuados, descrentes, ironizados e enganados. O leite derramou. E tanto, que mesmo o próprio futuro já não nos dá tanta vida à moradia. Proteção ao trabalhador, 50 anos em 5, ideais libertários, capitalismo e democracia nos brindaram com sonhos de prosperidade futura. Um futuro assim que não chega, enquanto o presente se reveste de perenidade nefasta.
Juscelino inaugurou Brasília, uma revolução arquitetônica, e desfilou em um fusca conversível, com capota aberta aplaudido pelo povo. Agora, nosso governador e o prefeito de Vitória fazem o mesmo, em carro conversível, para inaugurar uma ponte, também arquitetônica, para um vão bem curto. Ponte curta e cara, predominantemente para automóveis. Uma festa popular, discursos eufóricos, uma ponte mais vertical que horizontal e a promessa do futuro promissor, do longo prazo. Há diferenças e semelhanças entre um momento e outro, mas o que há de mais igual é a promessa de um futuro redentor.

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