Monday, August 03, 2009

Canto das Sereias



Tudo indica que Luiz Paulo Veloso Lucas será a alternativa racional ao governo do estado em 2010. Assim, os eleitores teriam um debate mais qualificado e instigador superando a mesmice de uma candidatura oficial pactuada de forma que as divergências se neutralizem ou se omitam. E olha que historicamente as divergências ideológicas em jogo são imensas. Desde a época da ARENA e do MDB elas até se acentuaram e se desdobraram em inúmeros partidos, traduzindo melhor o pensamento e a ação de seus seguidores. Há países que, pela sua formação histórica, dois partidos políticos podem ser suficientes, como é o caso dos Estados Unidos. No Brasil, com a miscigenação étnica e social que o caracteriza, ocorreu uma estruturação político-partidária ampla como se fosse uma proposta de melhor expressar aspirações públicas. E assim, dezenas de partidos surgiram. Muitos representando verdadeiramente ideologias e até utopias sociais.

Porém, o que se observa é que não evoluíram em suas proposições e ações concretas. Tornaram-se bandeiras de aluguel e até meio de vida para muitos que foram fundados com a intenção de serem vendidos. Hoje, impera um pragmatismo intenso e coercitivo, muito superior aos ideais e valores que enobrecem a luta democrática. Isso banaliza o pensamento humano. Os partidos deixaram de ser a expressão da população e de seus eleitores, para se transformar em propriedade de políticos. Como se fossem donos do poder político seus representantes abandonam correntes ideológicas e costuram alianças esdrúxulas. Cuidam de si e seu projeto de poder de longo prazo. Os eleitores que se danem, suas aspirações idem.

Não há debates ou consulta a quem os elegeu. Apenas ao diretório partidário, e este coloca acima de seus princípios magnos a conveniência situacional. Financeiramente dependentes e reféns de um pacto federativo, prefeitos municipais são, aos poucos, seduzidos pelo canto das sereias. Até Homero, um dos maiores poetas gregos relata o efeito do canto das sereias. Lígia, tocando flauta, Parténope na lira e Leucósia na declamação de textos e nos cantos tentaram seduzir Ulisses que sabiamente se amarrou à embarcação para não se deixar levar a ilha das sereias.

Aqui, o exercício da política parece uma orquestra com músicos de diversos naipes que, sob a batuta do maestro, reproduzem harmonias, notas e sons contidos em partituras oficiais. Não há dissonâncias, solos virtuosos ou improvisos contagiantes. Alguns são músicos de estúdio, outros, de aluguel: ora tocam ali, ora tocam lá. Estão preocupados em encher o salão, colocar todo mundo para dançar. Há músicos muito bons no Estado, mas para integrar a orquestra é preciso saber ler partitura. Tocar de ouvido não é aceito. Muito menos composição própria ou versão.

Candidato “oficial”, Ricardo Ferraço reúne qualidades para ser um bom regente sem dúvida, mas a presença de Luiz Paulo enriquecerá o conteúdo e o nível das propostas de trabalho, permitindo que os eleitores decidam melhor e com mais segurança. Dotado de rara inteligência e sagacidade o tucano capixaba tem ampliado, nos anos recentes, seus conhecimentos de gestão e articulação estrutural tanto em nível internacional quanto em nível nacional. Em termos locais tem um bom conhecimento sobre a dinâmica da região sudeste e do Estado não só porque já atuou no BNDES, mas também porque foi secretário estadual de planejamento e agricultura. Em sua memória de trabalho há ainda a gestão da Prefeitura municipal de Vitória, uma capital que concentra uma forte expressividade econômica e social. Além da competência pessoal, suas forças estão na visão estratégica, na percepção inovadora e na articulação nacional.

Ferraço tem suas qualidades e está inserido de forma mais explícita na estratégia política adotada no estado nos últimos anos. Político inteligente e habituado a esse ambiente, desde pequeno sabe se comportar de forma que satisfaça a diversas correntes ideológicas sem assumir alguma de forma mais específica. Passou os últimos anos se moldando e arquitentado alianças que lhe dêem base para as próximas eleições ao governo do estado. Em tese, tem o apoio de representativo grupo de empresários, sendo que alguns participam do que se denomina movimento empresarial do espírito santo, o que lhe facilitaria a obtenção de fundos de campanha. Além da competência pessoal, suas forças estão no apoio palaciano, na expressão política do pai e na articulação com as prefeituras municipais.

Com três cidades entre as dez mais violentas do país, elevada ineficiência na saúde pública e na logística infra-estrutural percebe-se que nem tudo está indo bem em nosso Estado, apesar, reconheça-se, da qualidade do governo atual em termos gerais e de seus esforços na área social. Assim, nada mais desejável que uma boa disputa, em que idéias, contrapontos e argumentos inovadores permitam ao eleitor a melhor decisão. E este, o eleitor, em minha percepção, espera que os partidos e os prefeitos resistam ao canto das sereias, chegando ao porto seguro da democracia plena e oferecendo aos eleitores as melhores candidaturas. Em regência, o maestro está um tempo à frente de sua orquestra. Então, em política, o maestro deveria ser a própria população e não seus representantes.

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