Thursday, July 30, 2009

Far West






Quando criança, lembro que chamava meus amigos dizendo vamos brincar de “camone boy”. O que seria o mesmo que falar vamos brincar de “faroeste”. O primeiro termo dizia respeito ao termo inglês usado no cinema “come on, boy” enquanto o segundo era nossa pobre tradução para “far west”. Na verdade respectivamente referiam-se a “venha, rapaz” e “oeste distante”. Para os americanos do leste realmente o lado oeste era muito longínquo não só pela distancia, mas, também, pela dificuldade imposta pelas secas pradarias e pelos temíveis índios que lá habitavam.
Sem a menor noção do que seriam aculturação e extermínio cultural, torcíamos pela cavalaria norte-americana em seus reluzentes uniformes azuis e amarelos. Foi naquela época que vi os primeiros cartazes de “procura-se”. Claro, apenas nas telas de cinema, retratando uma época que ocorreu há mais de cem anos atrás. Naquela época, coitados, não havia internet e assim não havia blogs, facebooks, orkuts, msn e outras facilidades tecnológicas hoje existentes. Só o Pony Express, a cavalo, de um lado para outro do país. Esse era o principal meio de comunicação em 1860, nos Estados Unidos.
A solução era fazer cartazes e colar nos postes e outros locais públicos. Como ainda não havia uma estruturação policial adequada, era necessário que houvesse a delação, estimulada por um punhado de dólares. Justiceiros, mercenários e caçadores de recompensa proliferavam em vários lugares. Instaurou-se uma nova forma de corrupção oficial quando o lado do “bem” artificialmente valorizava o lado do “mal”, criando bandidos e delações valiosas.
Nunca imaginei que nos dias de hoje, um século à frente, o dinheiro público seria usado para essa finalidade. Foi com surpresa e perplexidade que vi os jornais locais do Espírito Santo noticiarem que serão colocados cartazes nos bairros, com foto, nome do procurado e o valor das informações sobre ele, com base em lei regulamentada pelo governo do Estado. John Wayne deve estar limpando as botas e polindo-as com graxa negra para voltar aos seus dias de glória. E Johnny Guitar pode estar afinando seu violão para tocar no fundo de um bar qualquer. Respeito a decisão das autoridades públicas, sei do enorme desafio que têm pela frente, da sua boa intenção de combater a criminalidade, mas não posso desrespeitar minha inconformidade.
As gráficas do velho oeste faturavam com modestos cartazes em preto e branco e desenhos manuscritos da face dos facínoras. Agora, o photoshop poderá até corrigir alguns detalhes para acentuar a figura de um procurado. Alguns, quem sabe, correrão disfarçados no calçadão, malharão na academia domiciliar e farão até dieta para sair bem na foto do poste da esquina. Afinal, os Jessé James, Dillinger e Bonnie and Clydes da vida sempre foram vaidosos. Mereceriam billboards –esse é o nome correto para o que no Brasil chamamos de outdoor - em locais de alta visibilidade. Na confirmação de uma probabilidade, a teoria dos jogos, de Nash, quem diria, virou folhetim em forma de cartaz analógico.

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