Monday, July 27, 2009

Idealismos e Divergencias




Recentemente, em “A Gazeta”, o professor Orlando Caliman reproduziu e comentou um tema destacando a pertinência do binômio pragmatismo e convergência como fatores determinantes para alcançar objetivos. Realmente essa tem sido a tônica dos últimos anos e das gerações recentes. Planilhas e programas determinam o que fazer e roteiros lógicos ensinam como viver bem. A vida se transformando em algo processual, seqüencial, retilíneo e convergente. Há todo um movimento organizado em direção a um objetivo precípuo. Velocidade, intensidade, ambição, ganância, despersonalização e hipocrisia são as ferramentas mais utilizadas. Lembram-me o clássico filme “Stepford Wives”. A robotização do ser humano como sistema social organizado.

Ao cultuar o pragmatismo as gerações recentes abandonaram o idealismo, as emoções e as sensações espirituais. A lógica e a racionalidade passaram a determinar os procedimentos humanos. E assim procedendo perdemos elementos fundamentais como a empatia, a solidariedade, a generosidade e a sensibilidade atávica. As leituras de filosofia, sociologia e história foram substituídas por livros escritos por empresários de “sucesso”, mostrando o caminho para a realização financeira. Ou, muitas vezes, por revistas semanais contendo pílulas de “sabedoria pragmática”. Os cursos superiores tenderam a ter um tempo menor, pois reduziram a carga de disciplinas humanísticas e culturais. Toda a insubstituível contribuição cultural a artística da civilização humana foi alijada do processo de formação superior. Os estudantes desapareceram. Ficaram alunos que respondem chamadas e conseguem nota média para passar de ano e depois obterem o diploma. Graduados em conformidade com as exigências do “mercado” não têm noção de valores e princípios, mas de preços e finalidades. Uma lástima. Há que se reduzir o peso da ótica programática na formação de gerações futuras.

Já a convergência, estratégia aceitável em algumas situações, transformou-se em algo onipresente em certas sociedades, em pré-requisito para se alcançar determinado objetivo. Na verdade, é um gradual processo de despersonalização, de anulação de convicções próprias. Em nome do todo, anulam-se as partes. Estas desaprenderam a seguir idéias e propósitos, a lutar por melhorias coletivas e aprenderam a seguir líderes Sun Tzunianos, especializando-se na arte de guerrear e vencendo não principalmente por convencimento e adesão, mas por aliciamento e imposição. O Horror, diria Conrad, na voz de Brando. A divergência, algo natural na existência humana, passou a ser mais reprimida ou omitida. E ela, desde que ética, respeitosa, fundamentada e impessoal no sentido de contrapor-se a idéias e não meramente a pessoas, faz muita falta. Exatamente por serem diferentes entre si os seres humanos podem se completar intelectual e culturalmente. Muitas vezes, a convergência transforma formuladores em seguidores; protagonistas em expectadores; escritores em leitores e, o que é pior: altruístas em egoístas.

Esse artigo não tem a ilusão de mudar a organização social, como fizeram os pragmáticos e convergentes ao construírem a sociedade contemporânea. Mas, oferecer a você que lê essas palavras a certeza de seu nível de responsabilidade em relação à construção de um futuro melhor.

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