Tuesday, March 17, 2009

Teatro para Oprimidos



Finalmente parece que a cortina caiu e o governo brasileiro está percebendo que a encenação de que a crise mundial não chegaria aqui deixou os atores palacianos perdidos, com um roteiro presunçoso e inverossímil. A queda do PIB foi o ato derradeiro, principalmente pela perda expressiva no setor industrial. O volume de demissões retirou grande parte das ferramentas e itens indispensáveis para a construção de um cenário populista, algo fundamental quando o “tour de force” tem maior ênfase na popularidade do que na credibilidade de seu elenco. O teatro está cheio, quase 200 milhões de pessoas.
Nos bastidores, a contra-regra, estrela rubra orgulhosamente no peito, agora olha para os fundamentos econômicos e torce para que entrem em cena e tenham um desempenho merecedor do Oscar da Academia de Cinema e Teatro de Planaltowood, sagrado templo de impressionantes encenações. Se olharmos esses fundamentos com lentes de séries históricas, o que é sempre recomendável em análises econômicas e sociais, será possível concluir que eles têm origem em governos anteriores e condições globais diferentes das atuais. A competência demonstrada em mantê-las não necessariamente é a mesma para recriá-las em ambientes mais hostis, caso se desgastem seriamente.
A imperiosa necessidade de reorganização da liquidez de mercado e da reordenação do sistema de crédito e sua confiabilidade advêm da perigosa redução das conhecidas “válvulas psicológicas de escape”, quando as pessoas encontram no consumo e nas vitrines a fuga da realidade que as oprime. Essa redução gera uma ausência de sentido nas ações do presente, uma frustração com as possibilidades futuras e a síndrome de ser inútil a luta pelo sonho acalentador.
Então, começam a surgir manifestações individuais e coletivas que tornam a platéia mais inquieta e exigente, fazendo de suas palmas, antes reconhecimento do desempenho, uma ruidosa e irônica frustração. E assim, o governo se torna vítima de sua própria armadilha, ao mascarar os efeitos da crise por meio de políticas assistencialistas de complexa sustentabilidade.
Mais uma vez, a grande responsabilidade pela mudança necessária parece ser dos empresários e trabalhadores, com maior concentração na busca pelo erro zero nas linhas de produção e por novos mercados fornecedores e consumidores. É notório que nos momentos de prosperidade auferiram lucros que lhes deram bons retornos sobre investimentos, mas também é notório que assumiram uma das maiores cargas tributárias do mundo, cumpriram uma das mais rígidas leis trabalhistas, enfrentaram uma infra-estrutura onerosa, alem de arriscada, e concorreram com a economia informal. Além disso, o ônus de demissões e férias coletivas lhes cai sobre ombros, enquanto no palco governamental continuam e se expandem os gastos públicos, emoldurando atores improvisados. E a plebe ignara, já inconformada, apenas ouve o tilintar das jóias e das taças de champanhe nos camarotes privativos.
Sem desistir da encenação, a peça continua e recita frases operísticas que afirmam que seremos o primeiro pais a sair da crise. Nem na Broadway, na nação mais rica do mundo, esse enredo está em cartaz.

1 comment:

Plínio Medeiros said...

Rs
Foi cômico esta postagem, eu não sei quem é mais ignorante, se é o Presidente que afirma asneiras em rede nacional, ou a nação que colocou ele lá para isso...
Porém ele pensará bem antes de vomitar absurdos em frente das câmeras, já que a aceitação dele caiu de 65%.