Tuesday, February 24, 2009

Estrangeirismos


Fiquei muito feliz em ler na coluna do leitor de A Gazeta, o comentário de uma pessoa que sugeria a tradução de palavras ou frases em inglês, quando usadas em textos de articulistas. Registrava que muitos, como ele, não dominavam o idioma estrangeiro e não entenderiam o sentido da frase que, por exemplo, usei em meu artigo “O Poeta e a Siderúrgica” recentemente publicado. Ele tem razão e é verdade que inúmeras revistas e publicações de circulação nacional utilizam termos em língua inglesa em seus textos, também sem traduzi-los. Na revista semanal de maior circulação aparece o termo “due diligence”. Mas, sou amplamente favorável que assim seja – sem tradução - para estimular os leitores a recorrerem a dicionários tradicionais ou na internet aumentando o seu conhecimento. O aprendizado passa pela busca, pela curiosidade, pela consulta e leitura de fontes do saber. Se o mineiro pesquisar porque diz “Uai, so!” vai saber que isso vem da época em que os ingleses vieram construir ferrovias na minas gerais e, inquietos com alguma coisa, exclamavam: “Why, so”.
O que me acendeu uma luz de inquietação não foi apenas foi o que o leitor escreveu, mas o que ele me fez pensar. Há no Brasil um movimento no sentido de evitar o uso de palavras estrangeiras em palestras, discursos ou grafias. O notável Ariano Suassuna tem capitaneado esse movimento em Universidades e encontros temáticos, e o político Aldo Rabelo chegou a propor Lei que proibisse tal uso. Para mim isso tudo é non sense. Um protecionismo extemporâneo no momento em que as línguas têm que se internacionalizar e assumir termos estrangeiros. Isso as enriquece. Em nossa língua pátria temos várias palavras do grego, do latim, do francês, do árabe, do inglês e de outras origens que muito contribuíram para a nossa capacidade de comunicação. Essa, o principio fundamental de qualquer língua.
Nossa língua, apesar de bela e conter gênios como Machado, Alencar e Cruz e Souza, é pouco competitiva. Não tem comunicação global. Nem nossos vizinhos a utilizam. Se a protegermos proibindo o uso de palavras estrangeiras para expressar alguma idéia ou conclusão estaremos tornando mais difícil ainda a nossa inserção competitiva na economia e na cultura globais. Nossas crianças e adolescentes têm que viver essa condição sem xenofobismo lingüístico, incorporando à transposição de seus pensamentos para a escrita ou a palavra os termos mundialmente aceitos e compreendidos. A Língua há que ser viva, dinâmica, usual. Não deve ser refém de provincianismos anacrônicos e retóricas populistas. Suassuna trata a questão de forma acadêmica, literária. Mas, muitos políticos têm se portado como defensores de nossa língua mater. E, em seus discursos, deixam transparecer essa postura de forma teatral, como se assim fossem impressionantes e comprometidos com nosso povo.
O que eles precisam fazer é descer do palco e lutar por mais segurança pública, mais igualdade social, mais escolaridade e atividade econômica. A Língua saberá cuidar de si mesma. Não fosse assim, Paulo Coelho não seria traduzido em tantos países. Ele escreve em português, talvez não o nosso melhor ícone, e sempre conviveu com estrangeirismos. O idioma incorpora, acrescenta, soma e enriquece seu vocabulário próprio. A Língua distribui essa riqueza, por ser livre e universal.

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