
Em tempos de folia nada melhor que usar a metáfora das alegorias carnavalescas para refletir sobre os partidos políticos de nosso País. Outrora poderosos e porta-bandeiras da luta pela justiça social, pela ética e pela liberdade e igualdade social, hoje desfilam em carros alegóricos e são apenas poderosos ao adotarem a máxima de que os fins justificam os meios. Os jornais locais dessa semana noticiaram o gasto com carros de luxo que as “autoridades públicas”, secretários e outros servidores públicos, têm à sua disposição ao custo da receita de impostos pagos pelos cidadãos. A versão tupiniquim do gasto público. Veículos caros, com alto consumo de combustível, que desfilam ao lado de ônibus superlotados todos os dias. Enquanto isso, como se fossem presos medievais, pessoas são enjaulados em lata de aço por falta de recursos financeiros segundo explicações oficiais.
Os políticos desenvolvem uma forte habilidade em agregar interesses individuais e personalistas e assim, tanto em nível nacional quanto local, consolidam redes de decisão e controle. A democracia os elege e eles nomeiam outros em nome dessa legitimidade. Parece entrega do Oscar, com solenidades e discursos de efeito. Alguns pelo “conjunto da obra” ao terem bom desempenhado em papéis de “filmes” alheios, outros por se adaptarem melhor ao roteiro próprio proposto. Em um país como o nosso em que a consciência coletiva é muito tímida em relação à consciência individual, movimentos civis organizados sem fins lucrativos ou associações de voluntários não encontram muito espaço no ambiente político-institucional. Meus alunos da Noruega, Dinamarca, Suécia e dos Estados Unidos adoram debater essa questão à luz do que valorizam e do que cultuamos. Percebem, ao pesquisar, que aqui isso ocorre expressivamente em associações de empresários bem sucedidos como a ACES e o Junior Achievement. Isso é algo necessário, mas não suficiente. No momento em que “Carnavais, malandros e heróis” completa 30 anos, percebe-se a sua contemporaneidade. A organização que envolve as pessoas comuns, “ordinary people” disse Lincoln, é incipiente.
Em nossa sociedade a tese predominante é simples: é bom o que é melhor para mim. E a sociedade como um todo naufraga em um mar de desperdício de tempo, dinheiro e vidas humanas. O caos no trânsito decorre da ausência do pensamento coletivo quando alguém estaciona em local impróprio. O motorista pensou em si próprio. Conseguiu a “sua vaga”. Os outros que se virem, já que o guarda não existe, ou se vem é compreensivo e míope. Alem disso, o motorista gosta de andar na “sua velocidade”, aquela que o leva o mais rápido possível aonde quer chegar. E as estradas interestaduais batem recordes de acidentes com mortes. As ruas raramente têm placas de velocidade máxima. Seria, talvez, uma afronta à nossa cultura. Para completar a paisagem guerniquiana motoboys dançam um balé mortal entre os carros e pedestres desconhecem suas faixas de travessia.
Nas moradias, cada um coloca muros altos, cerca elétrica e protege os seus bens e pessoas. O vizinho que se dane. Os moradores de uma mesma rua não se unem para uma vigilância mútua. Muito raramente isso acontece. Cada um que cuide de si. Condomínios tradicionalmente são verticais. As milícias assumem esse papel como noticiam os jornais da semana, e cuidam daqueles que as pagam. As famosas associações de moradores, em sua maioria, se despem do coletivo e vestem a fantasia do sonho político pessoal. Subdividem-se em grupos de poder e capacidade de eleger vereadores e deputados. Muros e cercas separam um vizinho do outro. Cada um com seu feudo. Não cuidam do bairro ou da rua. Apenas do que chamam de lar. E enganam a si mesmos vendo na TV o mundo lá fora. Um sonho de carnaval que acaba na quarta-feira. Menos na Bahia, claro.
Reler a Parábola de Mandeville, analisando o egoísmo “aparente”, é de bom alvitre, diria o bom senso.
Os políticos desenvolvem uma forte habilidade em agregar interesses individuais e personalistas e assim, tanto em nível nacional quanto local, consolidam redes de decisão e controle. A democracia os elege e eles nomeiam outros em nome dessa legitimidade. Parece entrega do Oscar, com solenidades e discursos de efeito. Alguns pelo “conjunto da obra” ao terem bom desempenhado em papéis de “filmes” alheios, outros por se adaptarem melhor ao roteiro próprio proposto. Em um país como o nosso em que a consciência coletiva é muito tímida em relação à consciência individual, movimentos civis organizados sem fins lucrativos ou associações de voluntários não encontram muito espaço no ambiente político-institucional. Meus alunos da Noruega, Dinamarca, Suécia e dos Estados Unidos adoram debater essa questão à luz do que valorizam e do que cultuamos. Percebem, ao pesquisar, que aqui isso ocorre expressivamente em associações de empresários bem sucedidos como a ACES e o Junior Achievement. Isso é algo necessário, mas não suficiente. No momento em que “Carnavais, malandros e heróis” completa 30 anos, percebe-se a sua contemporaneidade. A organização que envolve as pessoas comuns, “ordinary people” disse Lincoln, é incipiente.
Em nossa sociedade a tese predominante é simples: é bom o que é melhor para mim. E a sociedade como um todo naufraga em um mar de desperdício de tempo, dinheiro e vidas humanas. O caos no trânsito decorre da ausência do pensamento coletivo quando alguém estaciona em local impróprio. O motorista pensou em si próprio. Conseguiu a “sua vaga”. Os outros que se virem, já que o guarda não existe, ou se vem é compreensivo e míope. Alem disso, o motorista gosta de andar na “sua velocidade”, aquela que o leva o mais rápido possível aonde quer chegar. E as estradas interestaduais batem recordes de acidentes com mortes. As ruas raramente têm placas de velocidade máxima. Seria, talvez, uma afronta à nossa cultura. Para completar a paisagem guerniquiana motoboys dançam um balé mortal entre os carros e pedestres desconhecem suas faixas de travessia.
Nas moradias, cada um coloca muros altos, cerca elétrica e protege os seus bens e pessoas. O vizinho que se dane. Os moradores de uma mesma rua não se unem para uma vigilância mútua. Muito raramente isso acontece. Cada um que cuide de si. Condomínios tradicionalmente são verticais. As milícias assumem esse papel como noticiam os jornais da semana, e cuidam daqueles que as pagam. As famosas associações de moradores, em sua maioria, se despem do coletivo e vestem a fantasia do sonho político pessoal. Subdividem-se em grupos de poder e capacidade de eleger vereadores e deputados. Muros e cercas separam um vizinho do outro. Cada um com seu feudo. Não cuidam do bairro ou da rua. Apenas do que chamam de lar. E enganam a si mesmos vendo na TV o mundo lá fora. Um sonho de carnaval que acaba na quarta-feira. Menos na Bahia, claro.
Reler a Parábola de Mandeville, analisando o egoísmo “aparente”, é de bom alvitre, diria o bom senso.
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