E-Diário

Ao longo do caminhar da humanidade, muitos foram aqueles que registraram a História, em suas diversas formas: relatos, crônicas, artigos, textos religiosos, fórmulas, poemas e demais expressões literárias. Muitos, porém, não tiveram a dimensão da perenidade, porque atuaram como meros espectadores ou romancistas da história, e não como seus protagonistas. Isto faz com que os diários da humanidade tenham uma natureza especial em sua aceitação. O acervo dos importantes é notável. Homero, faz, sob a forma de um poema-épico, algo próximo de um diário ao relatar as epopéias de Ulisses. Oscar Wilde, em seu desabafo no cárcere, escreve “De Profundis”. Sob o jugo nazista, a holandesa Anne Frank relata seu mundo oprimido e enclausurado. Prestes, nas breves paradas para descanso de sua coluna, também faz suas anotações. Chessman, o bandido da luz vermelha, registrava diariamente suas percepções da vida prisonal. Enfim, inúmeros e variados seriam os exemplos. Entre os mais relacionados à identidade da América Latina, porém, destacam-se os manuscritos de Ernesto Guevara, o “Che”. Especialmente, “Diários de motocicleta”: um relato incomum da gênese latino-americana, revestido de um inegável senso de solidariedade, empatia e determinação. Tudo isso em um ambiente adverso e inóspito, mutilado por agressões colonizadoras e exploradoras da cultura local, algo bem diferente do clássico “Easy Rider” hollywoodiano. Em suas percepções intimistas, “Che” foi construindo ao longo da viagem uma especial compreensão da vida latino-americana, seus valores, suas desigualdades, suas injustiças e da importância de sua integração. Integração esta que ele entendia ser possível apenas através de movimentos revolucionários, tamanha a força do capitalismo opressor e explorador. Dedicou sua vida a esta causa e faleceu lutando contra forças da CIA, do governo da Bolívia e - alguns afirmam -.do próprio Brasil. Morreu o homem, ficou o mito, ficaram os ideais. Ideais estes, hoje reprimidos e distorcidos mas incontestáveis frente ao empobrecimento da América Latina, o aumento de suas desigualdades e tragédias sociais– no Brasil, por exemplo, um país emergente (?), a população das favelas cresce mais do que a média do país. Os diários não param. Continuam a ser escritos, seja por George Bush, ao impor suas belicosas percepções ao mundo; seja por oficiais norte-americanos, ao humilhar prisioneiros de batalha, seja por uma jovem iraquiana abusivamente estuprada por jovens senhores egressos de empregos McDonaldianos orientados por velhos senhores egressos da elite de West Point. Também, por terroristas inconformados com a situação de seu povo. Aculturados, os jovens modernos, em sua maioria sem ideais, fazem blogh, na internet. É o e-diário.