Saturday, February 07, 2009

De keynes a Lula





De Keynes aos dias de hoje há um longo e sinuoso caminho. É possível observar que nos momentos mais críticos das décadas pós Bretton Woods, foi o Governo quem socorreu as economias em dificuldades acentuadas. Exatamente ele que foi identificado pelo economista inglês como fonte de geração de riqueza e renda por meio de investimentos de grande porte e de natureza estruturante. A tal “demanda agregada” surgiria. Ao agir o governo estimularia a atividade econômica complementar ao que fazia.

Na década de 30, a presença do Governo na vida das pessoas estava manchada negativamente pelo totalitarismo de Hitler na Alemanha e de Mussolini na Itália. Mesmo assim, Keynes, apesar de vencido no encontro de Woods, inspirou Roosevelt em seu projeto de Governo, com o “New Deal” (1993-37). Então, o ambiente que inebriara a Europa na década de 20, com Paris e Berlim potencializando o progresso nas artes, na ciência e no senso de liberdade, deu lugar à presença decisória do Estado.

Este, por muitos anos impôs o modelo de produção e acumulação da riqueza global. Além disso, conferiu importância e autoridade a funcionários e organizou sistemas de planejamento centralizado tanto no modelo comunista quanto no modelo capitalista. Até que o desenvolvimento da tecnologia da informação e da informática em si criou algo inédito qual seja a velocidade. Nesse sentido, o Estado, na figura do Governo, passou a sofrer com a burocracia e a dependência jurídica. Leis, normas e obrigações passaram a obstaculizar o benefício da inovação nos mecanismos de gestão pública.

Fez-se necessário um modelo mais leve, mais dinâmico, ou então haveria um descompasso entre a lógica de mercado e a lógica de Governo. Surge, no final dos anos 70, o neoliberalismo, trazendo em si um enorme abrandamento da regulação econômica, emoldurado pelas críticas às ditaduras, ao engessamento do empreendedorismo e atento à proximidade de um novo milênio, tecnologicamente cibernético.

Uma transição gradual da igualdade limitante para a desigualdade propulsora; do poder do altruísmo social para o da riqueza pessoal; da posse dos bens para a sua propriedade; da centralização para a descentralização; da renda para o crédito; da “governocracia” para a “mercadocracia”; da ciência para a técnica; do trabalho para o emprego; da família para o indivíduo; da demanda para a oferta; da economia real para a financeira; da natureza para a poluição, dos programas para os projetos. Tudo muito bem até não haver crise. Como a de agora.

Com ela, é essa é seriíssima, há quem queira repensar a ordem mundial e sua lógica de produção, acumulação e consumo. Convocado, o Estado comparece e os governos despejam aproximadamente US$ 600 bilhões na economia global que já perdeu mais de 500 mil empregos. A overdose está passando, agora vem a abstinência recessiva.

Ao Brasil, que tanto cultuou o mercado nos últimos anos, cabe agora a decisão de rever seus gastos públicos desnecessários, senão irresponsáveis, reduzir impostos, a taxa Selic e o seu superávit fiscal primário para fazer investimentos públicos que ativem a economia real. O PAC tem que sair do papel para criar “demanda agregada”. Agora, mais do que nunca, Senhor Presidente. Pois a solução não passa pelos gastos insustentáveis dos consumidores, mas pelos gastos estratégicos do Governo Federal.

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