
Você que está aí no Olimpo, não dos deuses, mas dos guerrilheiros que tiveram por princípio o auto-sacrifício, a honestidade e a devoção à causa, certamente está acompanhando o que está acontecendo aqui na Terra. Aos 36 anos você deixou sua mulher e cinco filhos, o seu cargo de Ministro, a cidadania honorária e a sua patente de comandante de uma Cuba revolucionária para marchar junto à pessoas comuns, idealistas como você, em busca de uma revolução continental que nos levasse a dias melhores em termos de desigualdade social nessa nossa América Latina. Ainda que muitos o contestem e tentem diminuir a importância de sua existência, a sua vida se tornou um exemplo perene de humildade e dedicação à justiça social. Tanto, que foi preciso que você fosse sepultado secretamente para que não se criasse junto à sua cova um local de peregrinação e adoração. Faminto, tão doente que não conseguia quase andar, mesmo assim você seguiu lutando até ser executado em 8 de Outubro de 1967. Até hoje, moradores de Vallegrande na, Bolivia, ainda guardam mechas de seus cabelos e rezam por sua alma em dia de finados. Certa vez, estive em Praga, na república Tcheca e, para minha surpresa, encontrei um antigo e alternativo restaurante e bar com seu nome e diversos cartazes e fotos de sua vida. Seu nome e seu ideal foram longe, Che, sem que para isso você tivesse que lançar uma bomba sequer sobre pessoas inocentes, como tem feito covardemente o Sr. Bush. Também, sem que você tivesse que lançar aviões sobre prédios repletos de inocentes, como fizeram covardemente alguns terroristas. Ah, Ernesto! Já não se fazem pessoas como você. Como Olga Benário! Hoje, são todos uns covardes, utilizando-se do avanço tecnológico e do anonimato para realizar suas ações bélicas. Quando esteve na ONU em 1964, você condenou abertamente a intervenção racista no Congo pelas potências ocidentais brancas. Hoje, escondem-se sobre a dúvida da autoria ou sobre relatórios falsos, como o das armas nucleares. Seu antigo parceiro, Fidel, ainda está vivo, mas acuado pela força do embargo capitalista promovido pelos EUA. Daí, do alto, você viu a queda do muro de Berlim em 90 e sabe que ele hoje é um comandante isolado, sem tropa e sem força. Que pena, Che! Só para lhe informar, o mundo produz alimentos suficientes para 9,5 bilhões de pessoas, ou seja, bem mais do que precisamos, pois somos 6,3 bilhões de habitantes. Porém, temos 840 milhões, quase cinco vezes a população brasileira, passando fome todo dia e cerca de 6 milhões de crianças até 5 anos morrem por desnutrição. Enquanto isso, nos EUA se gasta US$ 117 milhões por ano para tratamento de saúde de 300 milhões de obesos. Não fique triste e angustiado, Che, mas preciso lhe dizer que Europa, EUA e Canadá, respondem por 60% do consumo mundial e tem apenas 12% da população da terra. Que desigualdade, não? Com aproximadamente US$ 1 bilhão nós poderíamos vacinar todas as crianças contra doenças transmissíveis. Mas preferimos gastar US$ 18 bilhões por ano com maquiagem. Imagine o quanto se gasta com bombas, tanques, aviões de guerra e demais instrumentos de matança, que passam a ficar disponíveis para pessoas como Sadam, Bin Laden e George Bush, todos com os mesmos ideais banais. Vou lhe poupar Che! Não vou falar sobre o Brasil. Pelos princípios da guerrilha e o compromisso de seus guerrilheiros você não ia gostar de encontrar o Waldomiro, o Roberto Jefferson... Releio seu diário e lembro do episódio do Elpídio em Sierra Madre. Termino esse artigo olhando para o seu retrato aqui na minha estante, mando um grande abraço para a turma aí do andar de cima e espero que você dê um puxão de orelhas nessa cambada de guerrilheiros “fake”.
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