Filme bom, inesquecível, clássico, com atuações
marcantes e memoráveis fica assim,
remoendo sua cabeça, preenchendo seus pensamentos sem a menor cerimônia.
Aproveitei alguns dias de folga e fui ao Cine Jardins, em Vitória, reduto de
filmes que não passam nas maioria dos circuitos de cinema da cidade capixaba.
Vi “Carol” e saí atordoado com sua qualidade, com sua beleza, com sua
sensibilidade outonal e uma brilhante Cate Blanchet dominando o tempo e o
espaço. Talvez Dougls Sirk o filmasse com mais espelhos e luzes coloridas e tênues.
As frases são breves e profundas. Ecoam no coração desprevenido. Há uma cena,
no início, em que Cate coloca levemente a mão no ombro de sua amada em forma
de despedida. Uma homenagem singela e sutil a “Spellbound”. Bogart e Bacall poderiam ter feito esse
filme.
Outro dia, fui ver “45 anos”. Aí foi Knock-out.
Fui à lona. Charlotte Rampling está simplesmente sublime. Aquela paisagem inglesa,
cinza e com muito “fog” embaça nossos sentimentos em relação ao tema central.
Não há necessidade de cenários, de complementos paisagísticos. A vida é uma
sequencia só. Há um amor acomodado no rastro do tempo e uma rotina que imita a vida.
Um casal resignado à passagem incontornável do tempo. E uma amor juvenil cuja
lembrança surge do nada, “out of the blue” . De repente uma notícia traz a
inquietude, a irresignação pelo rumo do passado. A dúvida do resultado do
acaso. Um silêncio acomodado no passar dos anos. Quando a mulher pergunta o que
o marido está lendo ele diz: Kierkegaard! Claro, esse é o escritor da crítica à
afonia, ao silencio perante algo complexo. Ao enclausuramento em si próprio.
Eles vão completar 45 anos de casados e, de
repente, algo coloca-se entre o presente e o passado. Uma lembrança indelével
no pensamento do marido. Isso o deixa sem clareza do que vê, do que ama. O tema
da canção que os uniu é “smoke get´s in your eyes”...sim, a visão está embaçada
pelo que ocorreu em algum tempo de suas vidas. As atuações são magníficas.
Cinema em sua máxima expressão. Obra de arte. O discurso final é uma apoteose
ao amor incondicional, ainda que incompreendido. E a atuação de Charlotte
Ramppling na cena final é antológica. Uma ode a indefinição do amor.
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