Saturday, March 14, 2015

Dupla Asfixia do PT


     Agora eu era estudante na UFES e frequentava a Cantina do Carlinhos, no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. Os tempos ditatoriais feneciam e palavras de ordem eram “anistia ampla, geral e irrestrita”. Era comum encontrar naquela cantina, o Stan, o Neivaldo e o Paulo, além de outros alunos. Pedro Mansur era um ícone dos mais envolvidos e fornecedor de bons livros, alem de fazer seus alunos lerem os volumes de “O Capital” de Marx. Vitoria era uma ilha cultural e a UFES um arquipélago de ilhas com ideologias distintas, mas nem sempre conflitantes. 

     Lembro que foi ali que ouvi falar do Partido dos Trabalhadores e da figura barbuda do Lula, o que de certa forma fazia lembrar o Marx de Pedro Mansur. Era possível perceber que a classe trabalhadora mais intelectual e refinada, observava melhor o Fernando Henrique Cardoso e a classe trabalhadora menos intelectual e mais humilde, cultuava o Lula.  O tempo iria mostrar o que viriam a ser ambos: duas figuras historicamente inolvidáveis. E o que viria a ser, também, o Partido dos Trabalhadores: um paciente de UTI que padece de dupla asfixia.

     A primeira é ética, pois seus maiores ícones estão fortemente envolvidos com a suspeita de corrupção e atitudes ilícitas, como Genoíno, Zé Dirceu e tantos outros. Pessoas que representavam o sonho de muitos trabalhadores com um país honesto, justo e democrático, viram esses nomes nas páginas policiais do jornais nacionais e internacionais. Todo um movimento de luta, armada ou não, se viu manchado com as tintas da corrupção, dos interesses pessoais espúrios e da falsidade como resposta às suas posturas. Alguns trocaram as armas pelas canetas Mont Blanc, assinando cheques milionários; outros trocaram os discursos calorosos pela locupletação em cargos bem remunerados. Um pesadelo.

     A segunda asfixia é técnica, pois seus gestores levaram o país a um quadro econômico insustentável que aflige toda a população, especialmente a de menor renda. Quando se junta uma drástica redução dos gastos públicos com um forte aumento do custo de vida o resultado é avassalador. A esperança desaparece e o pavor substitui o medo. Os intelectuais do PT não conseguiram, de forma sustentável, criar efetivas politicas públicas, competitivas politicas industriais e agrícolas. Muitos foram os livros e os artigos escritos, mas pouco se fez de formaprática. A Petrobrás é um exemplo derradeiro. Um exemplo de como não se deve administrar uma estatal.

     Tenho muito respeito por muitos  petistas sérios e competentes, mas não posso calar a voz da desilusão causada a tantos brasileiros, petistas ou não.

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