Monday, August 22, 2011

Beber e Dirigir


O professor universitário norte-americano Timothy Mayo é também um exímio advogado e conhecedor das leis daquele país. Em razão de nossa amizade, considerou a possibilidade de vir ao nosso estado proferir uma palestra sobre a questão legal de beber e dirigir. Chegou quarta feira e retornou no domingo de tarde. Não veio passear, mas exercer um exemplo de cidadania e responsabilidade social ao não cobrar honorários. A sua intenção é conscientizar as pessoas sobre a importância desse tema, de seu debate e do aperfeiçoamento de suas leis. A instituição de ensino anfitriã foi a Faculdade de Direito de Cachoeiro do Itapemirim, no encerramento de sua IV Semana Jurídica. Inúmeros alunos, professores e profissionais liberais compareceram ao evento ainda que houvesse ao mesmo tempo uma novela em seu final e fosse uma noite de sexta feira. Eu tive a honra de fazer a tradução simultânea e o contato com os aspectos legais das leis norte-americanas foi muito importante para todos os presentes, especialmente para os jovens universitários.

Não é uma questão de saber qual lei é melhor, a nossa ou a deles, mas sim de melhorar entendimentos, de complementar percepções e construir soluções locais. Foi uma noite memorável. Saímos daquela importante cidade do sul do estado com a sensação do dever cívico cumprido ao ver tantas perguntas e ampla participação dos presentes ao evento.E na volta para Vitória o professor me disse: é praticamente um dia de viagem de minha cidade à sua, e mais um dia inteiro para voltar para minha casa, mas eu me sinto realizado ao poder contribuir para reduzir acidentes fatais ou não em razão de dirigir sob influencia de álcool. E disse, vou chegar a minha cidade, nos Estados Unidos, e vou do aeroporto para o escritório trabalhar. Mas não estarei cansado, pois fazer o que fizemos em termos de educação cívica sempre me deixa em boas condições físicas.

Ele gostou muito de nosso estado, de nosso povo. Adorou ir ao Wunderbar Kaffee e tentar conversar com as pessoas e os músicos. Mas não entendeu algumas coisas. Ficou impressionado ao saber que a ligação rodoviária entre o Rio de Janeiro – uma das cidades mais famosas do mundo – e Vitória – uma cidade com tantos investimentos industriais e comércio exterior – se dá por uma estrada tão precária como a BR-101! Apaixonado por futebol, também não entendeu por que os estádios ficam tão vazios se temos excelentes jogadores e times. E menos ainda como temos uma excelente seleção de futebol feminino e não se vê jogos femininos por aqui. Dúvidas que ia tentando resolver. Adorou a Praia da Costa e o hotel em que ficou, Quality, mas não entendeu por que não haviam lojas abertas na cidade, nem os shoppings, no domingo. Eu rodei por vários lugares com ele e não encontramos um lugar sequer para comprar uma camisa de futebol, no país do futebol. Os Shoppings só abririam às três da tarde.

Foi embora feliz da vida pelo dever cumprido, apaixonado por nosso povo e nosso lugar, mas com algumas dívidas na cabeça! As mesmas que talvez tenhamos. Por exemplo, eu comuniquei aos dois jornais locais A Gazeta e A Tribuna sobre a presença do professor, sobre o evento e nem uma linha foi dita apesar de a Tribuna estampar uma ampla matéria sobre o tema no dia seguinte ouvindo várias pessoas. E a Gazeta, sequer se manifestou. Não queríamos publicidade para atrair gente para o evento que era restrito aos alunos e professores, mas para divulgar contradições legais que muito contribuiriam para nossa vida cotidiana.

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