Há alguns anos eu lido com estudantes e professores noruegueses. A bem da verdade com escandinavos já que lecionei também para dinamarqueses, suecos e finlandeses. Durante os últimos oito anos tem sido assim. Inclusive, três ou quatro anos atrás coordenei um seminário para esse público em Canoa Quebrada, no Ceará. Eles gostam de locais assim bem nativos, naturais. O mais primitivo e simples possível. Ao mesmo tempo adoram esportes e principalmente os ligados ao mar. Por isso, a afluência para a República Dominicana tem sido muito grande. Passou a ser uma opção melhor que o Brasil, nesse contexto. Fiz muitas amigas e amigos e sempre mantemos contato. Houve uma turma em que estavam pessoas de mais idade em relação aos demais alunos e pude ver que essa nova geração expressa algumas restrições à anterior, muito disciplinadora e previsível até o fim da vida. Conheci uma aluna de Sigdahl, uma pequena vila norueguesa e aprendi que muitas vezes as famílias sequer mudavam de lugarejo, construindo suas vidas naqueles limites geográficos e culturais.
Observei que jovens e pessoas de mais idade não se misturavam em suas diversões ou conversas de modo geral. E isso poderia significar uma diferença de apenas dez anos ou quinze anos. A Noruega ficou rica muito recentemente em termos de tempos históricos. Com o petróleo, naturalmente. A sabedoria e a prudência dos mais antigos, do pensamento ancestral, por exemplo, ancorou essa riqueza em investimentos que assegurem o futuro da nação. Então, aquele povo rural, trabalhador e acostumado às coisas simples se viu diante de um grande dilema: conciliar aspirações jovens com a prudência da tradição. Não se trata apenas de dinheiro. Esse não é problema fundamental, mas dos conceitos sociais. Como eles não tem diferenças de classes sociais uma médica sai com um pedreiro, um economista com uma varredoura de rua de forma muito natural. Porém, ao voltarem do exterior, de seus estudos Cross-cultural, os alunos e alunas, em alguns casos, traziam ou tentavam trazer suas paixões ou namorados de outras culturas como africana, latino-americana ou caribenha. Tenho ex-alunas que casaram com pescadores de Canoa Quebrada e são muito felizes lá na Noruega, com filhos.
Não há como negar, entretanto, que isso provocaria uma potencial insatisfação de uma parcela dessa sociedade mais conservadora, mais de direita. O clima extremamente frio, a tradição muito conservadora em termos de mobilidade social e o contato com outras culturas construiu uma plataforma para questionamentos sociais. As universidades norueguesas estimulam que seus alunos cursem disciplinas em outros países. Isso acontecia na Europa, seja na França, seja na Alemanha ou Dinamarca. Com a globalização e a internet novas fronteiras se abriram e outros países foram incluídos nesses roteiros. Certa noite, em uma cidade chamada Laerdal, fim de noite, eu estava no piano bar e o pianista ficou feliz da vida e continuou além de sua hora de trabalho para me fazer de crooner de músicas standards norte-americanas e mundiais. Claro, com o bar vazio já que só havia um pequeno grupo de japoneses naquele dia e que adorava Karaokê. Eu, em pessoa, rsrs. Ao final, dia já amanhecendo, salão mais vazio ainda ele disse: nunca pude viajar ao exterior. Nem tentei. A música sempre me bastou para completar a minha felicidade em minha pequena vila onde nasci e vou um dia morrer.
Mas nem todos pensam mais assim. Muitos querem mudanças, abertura. E isso pode desagradar alguns. Que de forma imperdoável e injustificável protagonizam eventos como os recentes. Essa é minha percepção.
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