Monday, July 11, 2011

Meia Noite em Paris


Woody Allen consegue juntar Carla Bruni, protagonizando uma italiana guia de Rodin – ironia fina pura – com um humorista norte-americano, Owen, muito bom ator por sinal, em um filme de natureza sentimental sem ter esse viés. Entendo-o como sentimental, pois essa é a característica daqueles que gostam da nostalgia, da memorablia, da busca pelo passado idealizado. Há uma nítida contraposição entre as percepções do casal potencial sogro-sogra e o escritor liberal. Do pragmatismo paternal ao sentimentalismo nostálgico do noivo. A indefinida noiva fica ao léu, conduzida pela mão de um erudito fake e pedante, como diz a guia Bruni, dando uma tapa de luvas na percebida arrogância americana. Finge até não saber falar essa palavra em inglês como se ela fosse pouco ensinada e temida. Woody, nunca bem aceito pelo stabilishment norte-americano cria diálogos impagáveis, em frases curtas e aderentes ao momento em que se presencia um novo choque cultural nos EUA. Gil, o personagem principal é taxado de comunista ao defender a camareira. Assim como Obama ao propor seguro saúde universalizante. O casal paterno-materno é uma reprodução dos padrões de Stepford Wives, dos anos 1960. Até se sentem aliviados quando a relação entre os noivos piora. E o Senador McCarthy é subliminarmente acionado quando o pai da noiva manda alguém seguir o estranho noivo que perambula por Paris após a meia-noite. Além de comunista, poderia ser boêmio e mulherengo. Para casar com a filha dele, teria que ser politicamente correto.
Allen não tem o requinte sentimental de Clint Eastwood, Francis Ford Copolla ou mesmo Sérgio Leone em seu período de Era uma Vez na América, quando, por exemplo, criou a cena da bailarina ao som de Amapola. Mas Allen é assim mesmo. Bruto, direto e romântico ao seu feitio. Talvez por isso ele insistisse naquele longo monólogo de Hemingway na carruagem. Gertrude Stein traduz Woody ao se referir a Ernest e eu vejo Woody nas cenas em que ele aparece. Talvez eu não goste de Allen o suficiente para ver algo contrário ao que sugiro nesse texto. Mas reconheço momentos geniais como aquele em que Gil diz “are you kidding me?”, reverenciando o grande De Niro e o mestre Scorcese na cena de Taxi Driver, quando, improvisando, De Niro diz: are you talking to me? Meu amigo Jace Theodoro pontua que há sempre o risco, especialmente na cinematografia norte-americana, da armadilha de cair em um filme sentimentalóide. Realmente, mas tratar de Cole Porter, Picasso, Fitzgerald, Hemingway e T.S. Eliot, entre outros, sem tentar não cair nessa armadilha, a meu ver, é desperdício de talento e emoção.
Tente lembrar alguma cena que o tocou emocionalmente. Para mim, é um filme frio demais. Molhado pela chuva de Paris, que não é a mesma que usou em Manhattan, um clássico.

1 comment:

Anonymous said...

O que um bom post. Eu realmente gosto de ler esses tipos ou artigos. Eu não posso esperar para ver o que os outros têm a dizer.